Folha de S. Paulo


Um mar de detritos atrapalha buscas por avião desaparecido

Nos últimos dias, as buscas pelo jato desaparecido da Malaysia Airlines se concentraram em imagens de satélite imprecisas e outras observações de objetos flutuando em regiões remotas no sul do Oceano Índico.

Até o momento, nenhum dos objetos foi recuperado ou identificado. Eles podem ser destroços de um avião, mas mesmo as autoridades que lideram a busca pelo voo MH370 reconhecem que também podem ser coisa completamente diferente. E pessoas que estudam detritos marinhos afirmam que essa "coisa completamente diferente" pode ser literalmente qualquer coisa.

Embora não existam dados firmes sobre detritos marítimos, estudos conduzidos como parte de projetos de limpeza de regiões costeiras e outras atividades sugerem que quatro quintos das coisas que flutuam no oceano provém de origens terrestres: lixo e restos deixados em praias ou que viajam pelos rios ou por esgoto e chegam ao mar.

Os especialistas concordam em que a maior parte desses detritos são pequenos e plásticos - muitas vezes garrafas, sacos e outros itens domiciliares e comerciais comuns.

Outros objetos que costumam ser encontrados flutuando são "nurdles", pequenos grãos de plástico embarcados, às dezenas de milhões de toneladas, para fábricas que produzem bens plásticos. Com o tempo, a maioria dos objetos plásticos se desmancha em partículas cada vez menores, sob o efeito das ondas e do sol.

Também existem muitos destroços maiores. Além de operações comerciais de pesca, nas quais é normal perder equipamento, contêineres de carga respondem por uma parcela dos detritos. Mas as estimativas quanto ao número de contêineres arrancados de suas posições nos conveses de navios por mares bravios variam consideravelmente. Alguns grupos de ativistas alegam que 10 mil deles ou mais são arrastados para o mar a cada ano, mas o Conselho Mundial de Navegação, depois de pesquisar junto aos seus membros, estimou que 700 contêineres perdidos anualmente é um cálculo mais razoável.

Desastres naturais que danificam estruturas em terra, entre os quais furacões, tufões e tsunamis, também contribuem para o grande volume de detritos. O tsunami que atingiu o norte do Japão em 2011, por exemplo, varreu cerca de cinco milhões de toneladas de material para o oceano, de acordo com estimativas do governo japonês.

Cerca de 70% desses detritos devem ter afundado de imediato, e boa parte do resto se dispersou pelo norte do Pacífico, de acordo com a Administração Nacional Oceanográfica e Atmosférica (NOAA) dos Estados Unidos, que tem um programa de estudos de detritos marítimos. Alguns grandes objetos -barcos, um trailer com uma motocicleta dentro e diversas docas secas, uma das quais com 21 metros de comprimento - chegaram às costa oeste da América do Norte.

Até mesmo detritos do tsunami que atingiu a Indonésia, Sri Lanka e outros países do Oceano Índico em 2004 continuam a flutuar pelos mares.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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