Folha de S. Paulo


Plano de desafiar Congresso deve limitar ação de Obama

No discurso em que apresentou seus planos para fazer de 2014 um "ano de ação", o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, demonstrou segurança em seguir trabalhando sem o Congresso, se for preciso, para fazer o país avançar.

No entanto, a decisão de privilegiar as chamadas "ordens executivas" (semelhantes às medidas provisórias no Brasil) foi vista como uma manobra que limitará sua atuação e evidencia a inaptidão de Obama em trabalhar com o Congresso.

Durante todo o discurso do Estado da União, na terça-feira (28), o presidente convocou os republicanos a se "juntarem" a ele em seus projetos, mas deixou claro que "onde pudesse dar passos sem o Legislativo", o faria.

Em 2013, após um discurso considerado bem mais ambicioso que o de quarta (29), Obama viu várias de suas propostas serem engavetadas no Congresso, como a de um maior controle da venda de armas no país.

Apesar de "driblar o Congresso" ser um caminho viável diante de uma Câmara com maioria republicana hostil, pouco pode ser feito apenas com a assinatura de Obama.

O aumento do salário mínimo defendido por ele, por exemplo, só poderá ser feito, com ordem executiva, para prestadores de serviço do governo. Reordenar gastos, aprovar uma reforma migratória ou mesmo fazer ajustes necessários no seu plano de saúde só será possível com o apoio do Legislativo.

Parte da oposição recebeu a intenção de "driblar" o Congresso como uma "ameaça". "É, certamente, uma posição arrogante", disse o senador republicano Rand Paul, pelo Kentucky –um dos nomes do partido cotados para disputar a Presidência em 2016.

"É evidente que o presidente está querendo culpar antecipadamente o Congresso pela inação", observou à Folha o estrategista republicano Ron Bonjean.

O discurso foi avaliado como positivo por 76% dos americanos que o assistiram, segundo uma pesquisa conduzida pela CNN. O resultado foi o mesmo do ano anterior.

Um dos únicos pontos defendidos por Obama em que especialistas acreditam que pode haver avanços é a reforma migratória.

"Obama reconheceu as preocupações republicanas sobre a reforma de uma maneira bipartidária e respeitosa", avalia Alex Nowrasteh, do Instituto Cato.

Na quarta (29), Obama já deu início a um tour de dois dias, por quatro Estados, para começar a promover a agenda defendida no Estado da União.

No interior de Maryland, ele defendeu o aumento do salário mínimo.

"Se você trabalha duro, tem que ter condições de pagar seu aluguel, fazer compras, cuidar de seus filhos", disse.


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