Folha de S. Paulo


Oposição tenta aprovar moção de censura a governo da Ucrânia

Os líderes da oposição da Ucrânia voltaram a pedir nesta terça-feira a queda do presidente Viktor Yanukovich, enquanto tentam colocar em votação no Parlamento uma moção de censura contra o primeiro-ministro Nikolai Azarov.

A sessão foi acompanhada por milhares de manifestantes que cercam o prédio da Casa Legislativa, protegido por policiais. A moção de censura é uma resposta aos protestos que começaram na semana passada após Yanukovich rejeitar um acordo para a adesão da Ucrânia à União Europeia.

Sergey Dolzhenko/Efe
Policiais fazem cordão de isolamento contra manifestantes que protestam contra o governo da Ucrânia por rejeitar acordo com a UE
Policiais fazem cordão de isolamento contra manifestantes que protestam contra o governo da Ucrânia por rejeitar acordo com a UE

A medida foi tomada pelo mandatário após pressão da Rússia, que é o principal fornecedor de gás do país e com quem os ucranianos tem uma dívida de cerca de US$ 60 bilhões (R$ 140 bilhões). Após o anúncio, a oposição convocou protestos no sábado (30), que foram violentamente reprimidos.

Em resposta, os manifestantes juntaram mais de 350 mil pessoas na capital Kiev no domingo (1º) e ocuparam os prédios da prefeitura e bloquearam as sedes do governo. Outras regiões da cidade ainda foram fechadas com barricadas para impedir a entrada da polícia.

Nesta terça-feira, os principais líderes opositores aumentaram a pressão sobre o governo, sendo saudados pelos gritos dos manifestantes. O líder do partido UDAR, o campeão mundial de boxe Vitali Klitschko, pediu apoio à moção de censura e disse que o governo "roubou nossa esperança".

Já o comandante do partido nacionalista Svoboda, Oleg Tiagnibok, afirmou que a população ucraniana deve expulsar a atual administração, chamada por ele de "quadrilha de bandidos". As declarações dos dois foram interrompidas por gritos de "revolução" vindos dos manifestantes e de outros deputados opositores.

Apesar da pressão, não há certeza se a oposição será capaz de derrubar o governo. Dos 450 assentos do Parlamento, 170 são controlados pelos rivais do governo e 35 pertencem a deputados independentes. No entanto, governistas começam a desertar, o que pode levar a que se consiga os 226 votos necessários.

Os opositores já conseguiram convocar o governo para uma possível votação da moção de censura. O pedido para que o primeiro-ministro Nikolai Azarov compareça à sessão desta terça-feira foi aprovado com 368 votos a 82.

APOIO

Enquanto acontece a sessão do Parlamento, o presidente Viktor Yanukovich segue para a China, em viagem marcada antes dos protestos. Na segunda (2), ele disse ter entrado em contato com o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, para retomar as negociações com o bloco.

Também ontem o presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou que o governo ucraniano é vítima de uma ação de "grupos militantes muito bem preparados e treinados". "Isso não é uma revolução, mas um protesto que, na minha opinião, não estava preparado para hoje, mas... para a campanha eleitoral de 2015".

Segundo analistas, o mandatário russo usou a dívida da Ucrânia para pressionar Yanukovich a não aderir à União Europeia, a fim de incluir os ucranianos no projeto de integração da União Euroasiática, que já inclui Armênia, Belarus e Cazaquistão e é vista pelos críticos como uma nova versão da União Soviética.


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