Folha de S. Paulo


Manifestantes invadem sede da polícia e do governo em Bancoc, na Tailândia

Após dois dias de confrontos nas ruas de Bancoc, os manifestantes contrários ao atual governo conseguiram entrar nesta terça-feira, sem resistência, na sede da Polícia Metropolitana e na Casa do Governo na capital tailandesa.

O chefe da autoridade metropolitana, o general Kamronvit Thoopkrachang, afirmou durante a manhã à imprensa que os agentes não utilizariam gás lacrimogêneo e permitiriam que os manifestantes entrassem na sede das autoridades e lá permanecessem o tempo que quisessem, informou o jornal "Bangcoc Post".

"Os escritórios pertencem ao povo e foram construídos com o dinheiro de seus impostos", declarou o chefe policial.

O líder do movimento de oposição, o ex-vice-primeiro-ministro no governo do Partido Democrata (2008-2011) Suthep Thaugsuban, convocou seus seguidores a concentrarem suas forças na investida contra o quartel policial durante o seu discurso na noite de ontem.

As carcaças de pelo menos oito caminhões da polícia que foram incendiados estão na entrada da Casa do Governo, conforme observou a agência Efe, após os fortes enfrentamentos da última noite, quando os manifestantes antigovernamentais lançaram dezenas de coquetéis molotov e bombas contra as autoridades.

No domingo e na segunda-feira, os policiais tentaram dispersar os manifestantes com gás lacrimogêneo, canhões de jatos d'água e disparos de bala de borracha, enquanto os seguidores de Suthep respondiam com pedras, garrafas e bombas caseiras, ao mesmo tempo em que tentavam remover as barricadas de cimento que cercavam os edifícios.

Nicolas Asfouri/AFP
Manifestantes tailandeses contrários à gestão da primeira-ministra Yingluck Shinawatra invadem sede do governo em Bancoc
Manifestantes tailandeses contrários à gestão da primeira-ministra Yingluck Shinawatra invadem sede do governo em Bancoc

Durante a transmissão ao vivo do canal Blue Sky, que apoia as manifestações contra o governo, era possível ver os agentes antidistúrbios recuarem, enquanto os manifestantes tentavam remover as barreiras e cercas de arame farpado para conseguirem ter acesso ao edifício governamental.

Após conseguirem o acesso, vários manifestantes e membros da polícia se cumprimentaram com efusivos abraços, apertos de mão e posaram para fotografias.

O Centro Erawan para Emergências informou em seu último relatório que 119 pessoas ficaram feridas durante as manifestações de ontem, três delas por ferimento de bala e a maioria com problemas derivados da inalação de gases tóxicos.

A primeira-ministra da Tailândia, Yingluck Shinawatra, declarou ontem à imprensa que não pensa em renunciar, conforme as exigências dos manifestantes antigovernamentais. Yingluck voltou a oferecer o diálogo como uma saída para se superar a crise política.

Yingluck classificou as reivindicações do líder dos protestos para que ceda o poder para um conselho popular como "inaceitáveis" e "inconstitucionais", após se reunir com Suthep na noite da segunda-feira em um encontro organizado pelos chefes do Exército.

Os manifestantes acusam o governo eleito de corrupção e de ser comandado "de facto" pelo primeiro-ministro deposto e irmão mais velho da atual primeira-ministra, Thaksin Shinawatra.

Pelo menos três pessoas morreram durante os enfrentamentos entre seguidores e opositores do Executivo na noite do último sábado nas proximidades da Universidade de Ramkhamhaeng e do estádio Rajamangala, no noroeste da capital.

A Tailândia vive uma grave crise política desde o golpe militar que derrubou ao governo de Thaksin em 2006.

Thaksin e sua irmã contam com grande apoio entre as classes baixas e nas áreas rurais do nordeste, enquanto grande parte de seus opositores procedem das classes médias e altas urbanas e de setores próximos do Exército e da monarquia.


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