Folha de S. Paulo


Manifestantes a favor da UE bloqueiam sede do governo da Ucrânia

O bloqueio do acesso a ruas de Kiev, incluindo barricadas na sede do governo e a tomada da praça da Independência por milhares de pessoas, acirrou a crise política na Ucrânia e provocou a reação do governo russo.

O país é palco de protestos desde a semana passada, após o governo, que é alinhado à Rússia, ter congelado tratativas para aderir à União Europeia. Parte expressiva da população, sobretudo na capital, é ocidentalizada e quer aproximação com a UE.

Gleb Garanich/Reuters
Manifestantes usam escavadeira para tentar furar o bloqueio policial próximo à sede do governo da Ucrânia
Manifestantes usam escavadeira para tentar furar o bloqueio policial próximo à sede do governo da Ucrânia

Nesta segunda-feira, o presidente Vladimir Putin saiu em defesa do colega ucraniano Viktor Yanukovich, um aliado antigo.

"Esta é uma tentativa de abalar as atuais e, quero enfatizar, legítimas autoridades no país", afirmou Putin.

Sob pressão desde o fim de semana, após desistir do acordo com os europeus, Yanukovich avisou que viajaria hoje para a China, onde pretende ficar por quatro dias.

O clima, porém, não deve se acalmar com sua ausência. A oposição cobra sua renúncia e promete manter os protestos --e não só na Ucrânia. Desde domingo, por exemplo, a embaixada em Londres concentra manifestantes que defendem a aproximação da Ucrânia com o bloco europeu.

A crise pode acirrar ainda mais o desgaste de Putin com a UE. O presidente da Comissão Europeia, braço executivo do bloco, José Manuel Durão Barroso, conversou nesta segunda-feira com Yanukovich e disse que uma delegação deve ser enviada a Kiev nos próximos dias para negociar.

O principal porta-voz da oposição nas ruas de Kiev é o pugilista peso-pesado Vitali Klitschko, que já se lançou candidato a presidente em 2015. Outra opositora do governo é a ex-premiê Yulia Timoshenko, presa desde 2011, acusada de abuso de poder. A oposição afirma que os russos estariam ameaçando o governo ucraniano por tentar se aliar ao bloco europeu.

Ao se manifestar pela primeira vez sobre a situação, Yanukovich disse que qualquer "paz ruim" é melhor que uma "boa guerra". Ele descartou, por ora, a decretação de um estado de emergência.

BARRICADAS

As redes sociais têm sido usadas para organizar barricadas pela cidade. No domingo, ao menos 100 mil pessoas cobraram Yanukovich. Nesta segunda-feira, os manifestantes usaram lixeiras, contêineres de metal e até jarros de flores para bloquear o acesso à sede do governo e impedir a entrada do premiê Mykola Azarov.

Segundo as autoridades locais, 150 policiais se feriram e 165 manifestantes também se machucaram --109 desses foram parar no hospital.

A Ucrânia não via protestos como os dos últimos dias desde 2004, quando o próprio Yanukovich foi deposto na chamada Revolução Laranja. Em 2010, ele venceu as eleições contra Timoshenko.


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