Folha de S. Paulo


Sob tensão, Montenegro realiza sua primeira parada gay

Ativistas de Montenegro realizaram a primeira parada do orgulho gay do pais neste domingo (20) sob pesada proteção policial.

Um dos objetivos da ação foi reforçar o pedido de adesão do país à União Europeia, que demanda respeito aos direitos humanos. Montenegro é uma nação independente desde 2006, quando a região separou-se da Sérvia.

A parada, feita na capital Podgorica, teve clima tenso, mas não registrou incidentes. Cerca de 150 participantes foram protegidos por 2.000 policiais.

Após o evento, ocorreram conflitos em vários pontos da cidade. Os guardas entraram em confronto com grupos contrários ao avanço dos direitos para os homossexuais. A polícia atirou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes, que revidavam com pedras.

A caminhada, que durou meia hora, foi a segunda tentativa de realizar uma passeata do orgulho gay em Montenegro, país montanhoso de 680 mil pessoas que começou as negociações de adesão à UE no ano passado.

Em julho, manifestantes que pediam a morte dos gays entraram em confronto com a polícia, que protegia cerca de 40 manifestantes na cidade costeira de Budva.

Desta vez, ruas foram isoladas e policiais uniformizados ficaram nos telhados dos edifícios próximos. Um helicóptero da polícia pairava sobre o evento.

"Estávamos contra enormes desafios, mas conseguimos. A partir de hoje não somos mais invisíveis", afirmou Danijel Kalezic, chefe do grupo Queer Montenegro, que organizou a marcha .

"Essa foi a primeira parada e a cada ano haverá mais e mais de nós", disse ele.

DIREITOS SUFOCADOS

As marchas do orgulho gay se tornaram comuns na vizinha Croácia, que aderiu à UE em julho. Porém, os direitos para casais do mesmo sexo permanecem sufocados na região dos Balcãs

Em uma pesquisa feita no ano passado, 71% dos montenegrinos disseram acreditar que a homossexualidade era uma doença e 80% disseram que os gays deveriam manter sua opção sexual em sigilo.

O poderoso bispo ortodoxo Amfilohije Radovic pediu aos organizadores para cancelar o evento, chamado por ele de "parada dos sem-vergonha".

Radovic defende que relacionamentos do mesmo sexo não são saudáveis porque não geram filhos.

No mês passado, a Sérvia proibiu a parada do orgulho gay pelo terceiro ano consecutivo, com medo de ataques de grupos de extrema-direita e ultra-nacionalista.


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