Folha de S. Paulo


Manifestantes protestam pela libertação de ativista brasileira do Greenpeace

Dona Rosângela Maciel, 56, dorme grudada ao celular. Aguarda a ligação da filha, Ana Paula, 31, a ativista do Greenpeace detida há 18 dias na Rússia durante um protesto em uma plataforma petroleira do Ártico.

A bióloga, acusada de pirataria, crime penalizado com 15 anos de prisão, já foi liberada para usar o único telefone do centro de detenção de Murmansk onde está presa. Mas o celular ainda não tocou.

"Tem uma fila muito grande de pessoas esperando para usar esse telefone", conta a mãe. "Sinto muita angústia, mas procuro pensar todos os dias que não vai acontecer nada ruim", disse dona Rosângela na beira da Avenida Paulista, onde o Greenpeace organizou, neste sábado, um protesto para "pressionar [as autoridades] pela liberação de Ana Paula".

Junto à mãe, estava também a irmã de Ana Paula, Telma Maciel, 33, com a filha dela, de 17, e um grupo de cerca de 60 pessoas.

Dona Rosângela voltou a apelar à presidente Dilma Rousseff, "como mulher, como mãe e como avô", para que a presidente interceda pela liberação da filha. "Não recebi resposta ainda, mas espero por isso", disse. E agradeceu o apoio que está recebendo da organização, com quem não tinha se envolvido até agora.

Além da ajudar na defesa, ativistas do Greenpeace na Rússia foram autorizados a levar livros, jornais e rádios aos presos para animar o dia deles na prisão. O diretor executivo de Greenpeace Brasil, Fernando Rossetti, 51, disse que a apreensão sobre a condenação de Ana Paula por 15 anos é real. "O medo é pela imprevisibilidade do processo, por quando e como vai ser julgada. Aconteceria a mesma coisa se um europeu fosse preso no Brasil. As garantias não são as mesmas", explica.

Houve também palavras de agradecimento ao Itamaraty. "Nós sempre fomos críticos com todos os governos, mas a diplomacia brasileira reagiu muito rápido", disse Sérgio Leitão, diretor de Política Pública do Greenpeace. Ele lembrou que o Brasil foi o primeiro dos setes países com ativistas presos a escrever uma carta onde garante à Rússia que Ana Paula se apresentará à Justiça local quando necessário e, por isso, poderia responder ao processo em liberdade.

Catando minhocas

O interesse de Ana Paula pela natureza vem desde a infância. A ativista, caçula de três irmãos, passava as horas catando minhocas, lembra a irmã Telma. "Ela sempre quis se tornar veterinária, pelo envolvimento que tinha com os animais, até que entendeu que estava interessada no meio ambiente como um todo".

A mãe conta que sempre apoiou a vocação da filha. "Eu sempre a incentivei. É a vida dela, é o que ela gosta de fazer", disse.

Ana Paula começou a participar das atividades de Greenpeace na rua, convencendo às pessoas a integrarem o movimento. A bióloga tornou-se ativista da organização em 2006, quando um navio da organização desembarcou na sua cidade, Porto Alegre. "Ela foi até lá como voluntária para ajudar a limpar e receber às pessoas. Uma das tripulantes da embarcação estava passando muito mal, estava muito enjoada, e resolveu que voltaria a casa de avião. Ana Paula a substituiu e daí nunca mais parou. Tinha só 25 anos", lembra Telma.

Protestos em 47 países

A organização ecologista convocou atos de apoio à libertação de Ana Paula e dos outros 29 ativistas que também abordaram a plataforma petrolífera no Ártico em 47 países.

Em Londres, cerca de 1.00 pessoas se concentraram frente a embaixada de Rússia, entre eles o ator Jude Law, os músicos Paul Simon (The Clash) e Damon Albarn (Blur).

Um número similar de pessoas se reuniu em Haia, frente à representação russa, onde levaram tambores e trompetas. Alguns dos manifestantes iam fantasiados de piratas e levavam cartazes como legendas como: "Pirateria? É piada?".


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