Folha de S. Paulo


Maquinista diz não saber que aconteceu em acidente de trem na Espanha

O maquinista do trem que descarrilou em Santiago de Compostela, na Espanha, disse em depoimento à Justiça e à Promotoria não saber o que aconteceu durante os minutos que precederam o acidente, que deixou 79 mortos e 130 feridos.

Nos depoimentos do último domingo, publicados pelo jornal espanhol "El País", Francisco José Garzón Amo, 52, disse que todos os dispositivos de segurança estavam ativados na hora do acidente.

Lavandeira Jr/Efe
Francisco José Garzón Amo, em foto de domingo (28); em depoimento, maquinista disse não saber por que demorou a frear
Francisco José Garzón Amo, em foto de domingo (28); em depoimento, maquinista disse não saber por que demorou a frear

Ele afirmou ter assumido o controle do trem em Ourense, por volta das 20h, e levava seu iPad com o livro de rota da Renfe, empresa estatal que controla a linha férrea, além do documento em papel.

O maquinista negou que houvesse qualquer elemento que o atrapalhasse na condução e disse que sabia sobre a redução de velocidade para 80 km/h antes da curva A Grandeira, onde ocorreu o descarrilamento.

Garzón diz que, como norma, os maquinistas devem reduzir a quatro quilômetros da curva. Porém, afirma não saber porque não fez a redução. "Não tenho uma explicação, não entendo como não vi. Quando eu percebi, achava que tinha mais túneis à frente e que ia tranquilamente, mas não, não, não", disse.

Quando percebeu a proximidade da curva, Garzón afirmou que acionou todos os freios possíveis, mas era tarde demais. "Meritíssimo, sinceramente digo que não sei, não estou tão louco a ponto de não frear", disse ao juiz responsável pelo caso.

O maquinista também negou se lembrar se estava conversando com os controladores de tráfego no momento do acidente. Após a análise da caixa-preta, os investigadores confirmaram que ele se comunicava com a torre de controle antes do descarrilamento.

TRAGÉDIA

Depois de ter visto o descarrilamento, Francisco Garzón ligou para a central, conforme o procedimento padrão da empresa. "Disse que havia muitos mortos porque era inevitável. Na velocidade em que eu ia, eu sei o que eu dirigia e sei que o acidente era uma desgraça, mesmo sem olhar para trás".

As primeiras informações fornecidas na terça-feira pelas caixas-pretas do trem revelaram que ele circulava a 192 km/h poucos quilômetros antes do acidente e que freou apenas segundos antes de descarrilar, a 153 km/h, se chocando contra um muro de contenção em sua chegada a Santiago.

O áudio gravado nas caixas-pretas também mostrou que o maquinista falava no telefone no momento do acidente com um funcionário da Renfe, que havia telefonado pouco antes "para indicar o caminho que deveria seguir ao chegar a Ferrol", seu destino final, informou o Tribunal Superior de Justiça da Galícia.

Neste momento, "parece que o maquinista consulta um plano ou algum documento similar em papel", segundo o tribunal. Garzón, um maquinista experiente, foi acusado de 79 homicídios por imprudência, mas ficou em liberdade sob controle judicial.


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