Folha de S. Paulo


Brasil não deve tomar partido em negociação, diz embaixador de Israel

Uma grande contribuição do Brasil ao recém-iniciado processo de paz entre Israel a palestinos seria não tomar partido, segundo o embaixador do país em Brasília, Rafael Eldad.

"O Brasil, como todos os países do mundo, pode dar uma contribuição ao acompanhar o processo dando ânimo às partes sem apoiar nenhuma delas", diz o diplomata de 64 anos, que nasceu em Marrocos e migrou para Israel aos 13 anos de idade.

O recado é sutil: a diplomacia israelense não esquece o fato de o Brasil ter reconhecido o Estado palestino em votação na Assembleia Geral da ONU, mesmo sem um acordo de paz. Pior, na visão israelense, foi ter ajudado a arregimentar outros países latino-americanos e até de outros continentes para essa estratégia.

Apesar da rusga, Eldad afirma que as relações Brasil-Israel são atualmente "muito boas".

O embaixador, no cargo há dois anos, afirma que o reinício das conversas, após um intervalo de três anos, é um momento de "muita esperança". "Em Israel há muito tempo pedimos para voltar à mesa de negociações. Mas os palestinos sempre colocaram pré-condições, foram à ONU, fizeram coisas que não ajudam. Para resolver a questão, é preciso dialogar", afirma.

As negociações recomeçaram ontem à noite com um jantar em Washington, promovido pelo secretário de Estado americano, John Kerry. Do lado israelense, a representante é a ministra da Justiça, Tzipi Livni; do lado palestinos, a coordenação cabe ao veterano negociador Saeb Erekat. O prazo previsto é de nove meses para finalizar um acordo de paz.

Os assuntos a serem discutidos incluem a definição de fronteiras de um futuro Estado palestino, garantias de segurança para o Estado judeu, o futuro de Jerusalém e o direito de retorno de palestinos que moravam onde hoje é Israel.

"São assuntos muito difíceis. Por isso, é necessário que cada parte mostre flexibilidade e tolerância", afirma o embaixador.

Há ainda, segundo ele, duas dificuldades adicionais para o sucesso da negociação: a desconfiança de grande parte da sociedade israelense e a divisão dos palestinos entre o grupo secular Fatah, que controla a Cisjordânia, e o islâmico Hamas, que administra a faixa de Gaza.

"A maioria dos israelenses busca um acordo de paz. O problema é que várias partes da sociedade desconfiam dos palestinos, em razão de momentos em que estendemos a mão e recebemos foguetes em troca, como na retirada de Gaza, em 2006. A falta de unidade palestina também dificulta muito. Não faz sentido que paguemos o preço da paz para fazer um acordo com um lado só", afirmou.


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