Folha de S. Paulo


Após morte de opositor, milhares vão às ruas na Tunísia protestar contra governo

Milhares de pessoas foram às ruas hoje na Tunísia para protestar contra o governo islamita, após o segundo assassinato político no país neste ano.

O opositor Muhammad al-Brahimi, 58, foi morto com 11 tiros diante de sua casa na capital Túnis, na frente de sua filha e mulher. Os atiradores fugiram em uma moto. Brahimi fazia parte do secular Partido Popular.

A morte do opositor trouxe de volta a memória do assassinato de outro político secular, Chokri Belaid, em 6 de fevereiro. À ocasião a Tunísia foi tomada pela maior onda de revoltas desde a deposição do ex-ditador Zine el-Abidine Ben Ali, e o então primeiro-ministro Hamadi Jebali foi forçado a renunciar ao cargo.

Zoubeir Souissi/Reuters
População acompanha ambulância que leva o corpo do opositor Mohamed Brahmi
População acompanha ambulância que leva o corpo do opositor Mohamed Brahmi

Mbarka Brahimi, sua viúva, afirmou à agência de notícias Reuters que "essa gangue criminosa matou a voz livre de Brahimi". Ela não especificou a quem se referia, mas o político era conhecido pela crítica insistente à coalizão islamita liderada pelo partido Al-Nahda.

Brahimi havia renunciado neste mês ao cargo de secretário-geral do Partido Popular após denunciar a "infiltração" de islamitas na sigla.

O presidente da Assembleia Constituinte da Tunísia declarou que sexta-feira será um dia de luto em homenagem a Brahimi. Organizações sindicais planejam uma greve geral.

Milhares protestavam hoje diante do edifício do Ministério do Interior em Túnis. Houve também protestos em Sidi Bouzid, berço da Primavera Árabe. Escritórios do Al-Nahda foram incendiados.

Segundo Rashid Ghannuchi, líder do partido islamita, o assassinato de Brahimi tem por objetivo "interromper o processo democrático e matar o único modelo de sucesso na região, especialmente depois da violência em Egito, Síria e Líbia".

A transição política tunisiana, no entanto, também é considerada problemática, como evidenciam os conflitos conflagrados entre opositores seculares e islamitas.
Com a deposição de Mohammed Mursi em 3 de julho, no Egito, há receio de que a Tunísia seja contaminada também por manifestações anti-islamitas.


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