Folha de S. Paulo


Kerry anuncia retomada das negociações de paz entre palestinos e israelenses

John Kerry, secretário de Estado dos EUA, anunciou hoje que foram estabelecidas as bases para a retomada das negociações entre palestinos e israelenses, após quase três anos de paralisação do processo de paz.

Apesar de não haver um acordo formal, é esperado que os negociadores israelense Tzipi Livni (ministra da Justiça) e palestino Saeb Erekat se desloquem até a capital americana na semana que vem para os diálogos.

Apesar do cinismo generalizado, o anúncio de Kerry vinha sendo especulado desde ontem pela mídia local. Circularam, nos últimos dias, relatos conflitantes a respeito do tema.

À Folha um funcionário de alto escalão do governo afirmou na quinta-feira que Israel estava pronto para retomar as negociações sem pré-condições e que os avanços dependiam, então, de uma posição palestina.

A liderança da Autoridade Nacional Palestina, no entanto, entrou em desacordo com o presidente Mahmoud Abbas a respeito do diálogo de paz. A decisão foi adiada para a sexta-feira, quando Kerry fez uma inesperada visita a Ramallah (Cisjordânia) para acertar os últimos detalhes com Abbas. O gabinete do presidente palestino se recusou comentar o assunto com a reportagem.

É especulado que a negociação será feita a partir das fronteiras de 1967 -incluindo a troca de territórios, devido à presença de assentamentos judaicos na Cisjordânia.

O processo de paz terá, se confirmado, como um de seus objetivos o estabelecimento de dois Estados, um aos palestinos e outro aos israelenses.

De acordo com o jornal israelense "Haaretz", está acordado de antemão que ambos os lados devem expressar publicamente ressalvas quanto às negociações de paz.

Palestinos não irão aceitar Israel como Estado judaico e israelenses dirão não estar preparados para retornar as fronteiras anteriores à Guerra dos Seis Dias, de 1967. Ainda assim, a expectativa é de que voltem à mesa de negociação.

O reconhecimento do caráter judaico de Israel tem forte significado simbólico, e deve dificultar o retorno de refugiados palestinos ao território israelense.

CONTEXTO

Havia, nos últimos meses, uma série de indícios apontando para avanços no processo de paz na região. John Kerry, substituindo Hillary Clinton no cargo de secretário de Estado, havia tomado a si a tarefa de reiniciar as negociações. Na quinta, Shimon Peres, presidente israelense, afirmou que a paz está "ao alcance" devido aos esforços de Kerry.

O secretário de Estado esteve seis vezes na região, desde a visita do presidente Barack Obama, em março. Ele estendeu, na quinta, sua visita à Jordânia, onde encontrou-se com Abbas. Na quarta-feira (18), a Liga Árabe havia apoiado publicamente o plano de Kerry.

"Os próximos dias serão críticos", disse Peres. "Ambos os lados estão fazendo um enorme esforço para superar os obstáculos."

Também deve servir de incentivo às negociações a medida da União Europeia que entraram em vigor hoje, estabelecendo que acordos europeus com Israel a partir de 2014 não serão válidos aos territórios além das fronteiras de 1967 --como a Cisjordânia e Jerusalém Oriental.

Na quinta, a líder da oposição Shelly Yacimovich enviou carta ao premiê Binyamin Netanyahu pedindo que considere as sanções europeias como ímpeto a retomar as negociações imediatamente.


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