Folha de S. Paulo


EUA enfrentam pressão de aliados após acusação de terem espionado UE

O governo de Barack Obama passa por um momento de perda de confiança de grandes aliados estrangeiros, que ameaçaram investigar e tomar sanções contra os Estados Unidos após denúncias de que o país teria espionado a União Europeia.

A tensão deste fim de semana começou após a revista alemã "Der Spiegel" afirmar que a NSA (Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos) teve acesso a conteúdos de conversas confidenciais como e-mails e arquivos de computadores da representação da UE em Washington.

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Para executar as atividades de espionagem, microfones teriam sido instalados no edifício e a agência teria acessado sua rede de informática. Medidas semelhantes teriam sido tomadas contra a missão da UE às Nações Unidas em Nova York.

A NSA chegou a ampliar as operações até Bruxelas. Há mais de cinco anos, afirma a "Der Spiegel", os especialistas em segurança da UE descobriram um sistema de escuta na rede telefônica e de internet do edifício Justus-Lipsius, sede principal do Conselho da UE, que alcançava até o quartel-general da Otan na região de Bruxelas.

A revista citou documentos secretos do ex-colaborador da espionagem americana Edward Snowden aos quais afirmou ter tido acesso.

As alegações representam mais um revés para os EUA em meio a um debate sobre os programas de espionagem do país --cuja meta é evitar ataques terroristas, mas cujo alcance tem levantado preocupações sobre possíveis violações ao direito à privacidade.

Diversas autoridades europeias de países como Alemanha, Itália, França e Luxemburgo afirmaram que as novas revelações podem atrapalhar negociações atuais sobre um tratado transatlântico que tem como meta ampliar em bilhões de dólares anualmente o comércio entre EUA e UE.

REAÇÕES

No sábado, o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, se mostrou "profundamente preocupado e impactado com as acusações de espionagem das autoridades americanas nos escritórios da UE".

Ele disse que, se as acusações forem comprovadas, as relações entre UE e EUA serão consideravelmente prejudicadas. Schulz pediu "um esclarecimento completo e informações adicionais rápidas" das autoridades americanas.

A ministra da Justiça da Alemanha, Sabine Leutheusser-Schnarrenberger, cobrou uma explicação imediata.

"Não podemos conceber que nossos amigos nos EUA possam considerar os europeus como inimigos", completou. "Se as informações dos meios de comunicação estiverem corretas, isso recorda as ações entre inimigos durante a Guerra Fria", disse.

A França também pediu explicações, afirmou o ministro das Relações Exteriores, Laurent Fabius. "Esses fatos, caso sejam confirmados, seriam totalmente inaceitáveis", disse o chanceler.

DEFESA

Membros de órgãos da inteligência americana afirmaram que discutirão as acusações com autoridades da UE.

"O governo americano responderá de maneira adequada, por via diplomática e através do diálogo EUA/UE entre especialistas da inteligência que os EUA propuseram instaurar há algumas semanas", afirmou a Direção Nacional de Inteligência americana.

Porém, o ex-dirigente da CIA Mike Hayden instigou a Casa Branca a tornar seus programas de espionagem mais transparentes.

"Quanto mais [as pessoas] souberem, mas confortáveis se sentirão", disse Hayden em entrevista à rede CBS. "Acho que precisamos fazer um pouco mais para explicar o que estamos fazendo, por que, e com que salvaguardas nós operamos".


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