Folha de S. Paulo


Ex-presidente da Bolívia pede que Dilma apele à ONU e OEA por senador asilado

O ex-presidente da Bolívia Jorge Quiroga (2001-2002) pediu nesta terça-feira que a presidente Dilma Rousseff recorra à Organização dos Estados Americanos (OEA) e à Organização das Nações Unidas (ONU) para permitir que o senador de oposição, Roger Pinto, possa deixar a embaixada brasileira em La Paz, onde está asilado há mais de um ano.

Em carta enviada hoje à presidente e distribuída também à imprensa, Quiroga sustenta que "a situação na qual está o senador Pinto viola acordos e tratados internacionais vigentes no hemisfério e no mundo".

"Por isso, peço que recorra a estes instrumentos e organizações para interromper a injusta clausura a que está submetido Roger Pinto há um ano e se faça efetivo o asilo que seu país tão generosamente concedeu no dia 8 de junho do ano passado", diz a carta.

"Estou convencido que, após um longo ano de 'detenção diplomática', seu governo poderá ativar mecanismos multilaterais para tornar efetivo o asilo do senador Pinto", acrescentou.

Pinto permanece desde o dia 28 de maio de 2012 na sede da Embaixada brasileira em La Paz e alega ser vítima de uma "perseguição política" por ter acusado o governo de Evo Morales de corrupção e conivência com o narcotráfico.

O Executivo boliviano rejeitou as denúncias e negou a permissão de saída para o senador, afirmando que ele está envolvido em supostos atos de corrupção.

Em sua carta, Quiroga acusou o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Antonio Patriota, de ter uma atitude "ingênua, quase negligente" no caso de Pinto, pois determinou que as visitas ao senador fossem limitadas durante sua última visita à Bolívia.

Ele também disse que espera que o governo brasileiro não aceite usar Pinto "como moeda de troca" para resolver o caso de 12 torcedores do Corinthians, presos desde fevereiro na Bolívia por suposta participação no lançamento --durante uma partida da Taça Libertadore-- de um sinalizador que atingiu e matou o menor Kevin Espada.

Segundo Quiroga, a possibilidade foi denunciada por parlamentares brasileiros.

Para o ex-presidente boliviano, existe uma "inconsistência" no governo de Dilma na defesa e aplicação do asilo, pois, enquanto o Brasil respaldou resoluções regionais em favor do australiano Julian Assange e advogou pelo ex-presidente hondurenho Manuel Zelaya, não atua da mesma forma em favor de Pinto.

Por isso, Quiroga questiona em sua carta se o Brasil defende os direitos humanos "de maneira diferente, caso o asilado seja protegido" por algum dos países da Aliança Bolivariana para as Américas (Alba).

O ex-governante concluiu sua carta pedindo a Dilma que restitua "as garantias plenas e totais" a Pinto "para que o Brasil possa demonstrar ao mundo inteiro que continua sendo um paradigma na defesa dos direitos humanos".


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