Folha de S. Paulo


Análise: Conservadores são hoje um partido em agonia

O afastamento entre David Cameron e seu partido tem muitas causas, como a complicada questão da Europa e o projeto de lei de casamento homossexual que ele apresentou ao Parlamento.

Mas o rancor surgiu, na realidade, por seu fracasso em vencer diretamente as eleições de 2010.

Esse pecado original resultou na coalizão com os liberais democratas, uma miscigenação política que revira os estômagos dos conservadores e violou a norma de que um líder pode ser tão autocrático quanto queira, desde que vença.

Na semana passada, um aliado do primeiro-ministro aparentemente teria criticado a base do partido, definindo seus membros como "inconstantes e malucos". A reação a isso tende a ser "perdedores arrogantes".

Cameron jamais tratou abertamente dos motivos para que não tenha vencido completamente em 2010. Mas a batalha para reinterpretar o resultado da eleição está dando forma ao seu presente e influenciará a escolha de seu sucessor.

Para os conservadores, a eleição será um ponto de referência, como a de 1992 foi para os trabalhistas. Por abstenção de Cameron, a batalha está sendo vencida pelos inimigos dele à direita.

A versão resumida do relato da direita sobre a eleição atribui a culpa pelo resultado de 2010 a uma campanha desleixada que ignorou causas conservadoras como os cortes de impostos e especialmente a imigração em troca de conversa mole esotérica sobre uma "Grande Sociedade". Isso foi agravado pela participação de Cameron em debates televisivos, nos quais ele fracassou.

Os modernizadores jamais compreenderam que a verdade prevalece só até certo ponto. As pessoas erradas ainda podem vencer caso seus argumentos permaneçam sem resposta.

Os políticos devem se preocupar com o futuro, mas perder a guerra pelo passado os afeta. No Partido Conservador, falta convicção aos melhores, enquanto os piores estão repletos de apaixonada intensidade.


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