Folha de S. Paulo


Moisés Naím desconstrói fim do poder no mundo em novo livro

Em seu livro recém-lançado "The End of Power", o fim do poder, Moisés Naím não identifica o fim do Estado, o fim das grandes empresas ou igrejas, por exemplo. Cada uma à sua maneira, as elites continuam em pé, até com maior concentração de riqueza, como nos EUA. Mas a sua capacidade de exercer tal poder está em xeque.

"É mais fácil obter e perder poder e é mais difícil usá-lo", diz Naím, em entrevista por telefone, de Washington. Ex-ministro da Venezuela, ex-diretor do Banco Mundial e ex-editor da revista "Foreign Policy", ele é membro associado do "think tank" Carnegie e colunista dos jornais Folha, "El País" e "La Reppublica", entre vários outros.

"O escudo que protege os poderosos agora é menos eficiente", prossegue Naím. "Isso é verdadeiro nos negócios, nas questões militares, na política, na religião, no sindicalismo, na mídia. E isso é devido a muitos fatores, uma longa lista de fatores, que eu procuro agrupar em três categorias, três revoluções."

REVOLUÇÕES

São três emes, em português ou inglês: mais (more), mobilidade (mobility) e mentalidade (mentality). A primeira categoria "tenta condensar o fato de que vivemos em um mundo de abundância, em que há mais de tudo: há mais pessoas no mundo, as pessoas são mais ricas do que nunca, há mais cidades, mais produtos, mais remédios e mais armas".

Para resumir como "o mais tem consequências para os poderosos", cita Zbigniew Brzezinski, ex-assessor de Segurança Nacional dos EUA: "Hoje é mais fácil matar centenas de milhões de pessoas do que governar centenas de milhões de pessoas".

A revolução da mobilidade reflete o fato de que esse "mais" também se movimenta mais. "As pessoas, seus produtos e seu dinheiro, sua ideologia e suas pandemias, tudo se movimenta mais. E o poder requer um público cativo, requer fronteiras muito definidas, dentro das quais você o exerce. A mobilidade dificulta isso."

A terceira categoria, mentalidade, se refere às "profundas mudanças em expectativas, aspirações, valores". Para Naím, hoje há menos tolerância para situações que antes eram aceitas sem questionamento. "Um dos exemplos mais ilustrativos disso é a explosão nas taxas de divórcio na Índia: as mulheres estão abandonando os seus casamentos arranjados."

NOVOS ATORES

No livro, Naím menciona a ascensão de empresas brasileiras como exemplos da reviravolta na estrutura de poder corporativo global. Na indústria aeroespacial, "os `mega-players' nunca imaginaram que uma empresa baseada no Brasil, a Embraer, poderia ser uma das líderes no mercado de tamanho médio".

No petróleo, "o mundo era dominado pelas Sete Irmãs, mas não mais: agora você tem empresas como a Petrobras, que estão entre as líderes globais". Da mesma maneira, "quem diria que uma das gigantes no mundo da cerveja, a Anheuser-Busch, seria dominada por uma empresa com raízes brasileiras?".

Naím cita outras gigantes emergentes, como a indiana Mittal, maior siderúrgica do mundo, mas evita a narrativa Bric, que toma Brasil, Rússia, Índia e China como protagonistas de uma nova ordem global. "A única coisa que os Brics têm em comum são o tamanho e o crescimento. Não mostraram capacidade de trabalhar juntos, de maneira consequente."

Ele também evita sobrevalorizar o impacto da internet para o fim ou o declínio do poder. "São ferramentas, são tecnologias que precisam de usuários. O que aconteceu na Primavera Árabe começou na Tunísia, e não começou por causa da internet. Twitter e Facebook foram amplificadores, mas não foram a causa para a perda do poder."

Com ampla experiência em redação, Naím observa que o "New York Times" ou a rede CBS ªcontinuam empresas muito poderosas, mas estão mais constrangidas do que no passadoº. Por outro lado, "a importância do jornalismo é agora maior do que nunca", com novos atores, em especial o "jornalismo-cidadão".

THE END OF POWER
AUTOR Moisés Naím
EDITORA Basic Books
QUANTO US$ 28 (320 págs.) e de R$ 30 a R$ 33 (e-book)


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