Folha de S. Paulo


Ataques põem Bagdá em alerta às vésperas de aniversário da guerra

A série de ataques aparentemente coordenados que deixou ao menos 18 mortos e 52 feridos nesta quinta-feira no centro de Bagdá colocou a capital iraquiana de sobreaviso.

Os procedimentos nas centenas de pontos de checagem foram reforçados, o que fez o já insuportável trânsito local piorar, e helicópteros e carros de polícia rasgavam céus e ruas durante todo o dia.

A reação mais os ruídos de tiros ouvidos durante a madrugada e na hora do almoço reforçaram o clima de guerra que teima em embalar a cidade do Iraque dias antes do aniversário de dez anos da invasão, em 20 de março, meses após a retirada norte-americana, em dezembro de 2010, e na véspera da sexta-feira, o dia sagrado muçulmano.

Perto das 12h locais (6h de Brasília), seis homens armados vestidos como policiais iraquianos invadiram o prédio do Ministério da Justiça, fazendo centenas de reféns. Minutos antes, pelo menos um carro-bomba foi detonado e um homem-bomba se explodiu em ou próximo a edifícios do governo.

Ahmad Al-Rubaye/AFP
Fumaça se ergue após ataque a carro-bomba em Bagdá, próximo da Zona Verde
Fumaça se ergue após ataque a carro-bomba em Bagdá, próximo da Zona Verde

Embora a autoria dos ataques não tenha sido reivindicada, suspeita-se que se tratem de grupos extremistas sunitas do país ligados à organização terrorista Al Qaeda. Os sunitas estão fora do poder de fato desde a queda de Saddam Hussein, em 2003. O atual primeiro-ministro, Nuri al Maliki, pertence à maioria xiita. Os primeiros têm usado as orações das sextas-feiras para fazerem protestos pacíficos contra os segundos.

As explosões ocorreram no bairro de Alawi, próximo à chamada Zona Verde, onde está a sede do governo iraquiano, e não muito distantes do prédio da embaixada brasileira em Bagdá, na rua Zeitoun. Foram ouvidas pela reportagem da Folha, que passava perto do local naquele momento.

À tarde, um filme sobre a invasão norte-americana de 2003 que teve cenas rodadas no estacionamento do hotel Palestine, onde se concentrou a imprensa estrangeira então, causou um princípio de tumulto. Explosões cenográficas e tiros de festim levaram parte desinformada da polícia da redondeza a tentar invadir as filmagens.

A violência de hoje não chega perto do auge de 2005-2007, mas reforça a escalada pós-retirada dos americanos. Até agora, 147 pessoas foram mortas em ataques desse tipo no Iraque apenas nos primeiros 13 dias do mês de março, ante 136 de fevereiro inteiro. Só na segunda-feira, seis funcionários do governo ou seus parentes foram mortos por pistoleiros, segundo relatos da imprensa local.

Além do aniversário da invasão, na semana que vem, há as eleições municipais de abril, que são consideradas uma prévia das eleições parlamentares do ano que vem. Há ainda o começo da contaminação da fronteira iraquiana pela guerra civil na vizinha Síria, onde os rebeldes sunitas tentam derrubar o governo do alauita Bashar Assad, ligado aos xiitas do Irã.

Como quase tudo no Oriente Médio, a origem da disputa é milenar. Os sunitas reconhecem como legítimos os quatro primeiros califados após a morte do profeta Maomé, em 632; os xiitas, apenas o quarto califa; os alauitas são uma variação mais moderada dos xiitas. Todos são muçulmanos.


Endereço da página: