Folha de S. Paulo


Chefe da OEA diz que Hugo Chávez foi caudilho, mas não ditador

O secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), José Miguel Insulza, disse nesta quarta-feira que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, foi um caudilho, mas não um ditador. Durante seu governo, o venezuelano ameaçou sair da entidade.

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Chávez morreu por volta das 16h25 locais (17h55 em Brasília) de terça (5), após três meses de internação em combate a um câncer na região pélvica. Em dezembro, ele foi submetido à quarta cirurgia contra a doença, mas sofreu uma infecção respiratória e não resistiu às complicações.

Em entrevista, Insulza considerou que alguns aspectos do governo venezuelano "deixam a desejar do ponto de vista da democracia". "Chávez foi um caudilho na medida em que ele era seu movimento. A força política de Chávez dependia dele. Agora, vamos ver até que ponto ele deixa um legado político".

Para o chefe da organização americana, Chávez "não pôde ter sido um ditador nesse sentido, já que sempre foi eleito democraticamente". "A verdade é que, embora algumas coisas na Venezuela certamente deixam a desejar do ponto de vista da democracia, pelo menos a oposição existia e tinha certo grau de legalidade".

O chileno disse que, durante seus sete anos de controle da entidade, sua relação com o governo venezuelano foi marcada por alguns incidentes relativos à democracia, direitos humanos e liberdade. Porém, considerou que não foi conflituosa.

"Não tive uma má relação com ele, salvo alguns incidentes que ocorreram com temas relacionados com o que é minha obrigação em termos de democracia, direitos humanos, liberdade de expressão e outras coisas. Mas, foram incidentes que, de certa maneira, acabaram sendo superados", apontou.

Nos 14 anos de presidência, Chávez foi crítico da atuação da OEA, em especial pela presença dos Estados Unidos, e incentivou a criação de cúpulas e grupos alternativos, como a Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas) e a Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos).

Ele criticava Insulza por sua atuação como chefe da entidade e o chamou, em algumas ocasiões, de "insulso" (insosso, em espanhol), "pentelho" e "vice-rei do império", em referência aos Estados Unidos. No período, participou de três Cúpulas das Américas e foi uma figura crítica contra o governo americano.

LUTO

O luto pela morte de Hugo Chávez que, na Venezuela foi de sete dias, foi acompanhado por países da América Latina e por outras nações aliadas, como o Irã e Belarus. Os que deram períodos mais longos foram Bolívia, Nicarágua e Equador, aliados de Chávez, que concederam os mesmos sete dias de luto.

Argentina, Brasil, Chile, Cuba, Dominica, República Dominicana e Uruguai decretaram três dias de luto, assim como Belarus, país do leste europeu cujo ditador, Aleksander Lukashenko, era aliado do venezuelano. O Irã decretou um dia de luto.

Assim como nas declarações de luto, a maioria dos presidentes latino-americanos deverá comparecer pelo menos ao enterro de Chávez.

Além dos três presentes, os mandatários de Brasil, Dilma Rousseff; Chile, Sebastián Piñera; Equador, Rafael Correa; Nicarágua, Daniel Ortega; Peru, Ollanta Humala; e República Dominicana, Danilo Medina, estão confirmados.

Ainda há a expectativa da participação do ditador de Cuba, Raúl Castro, e do presidente do Irã, Mahmoud Ahmaedinejad, além do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente paraguaio, Fernando Lugo.


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