Folha de S. Paulo


São encontrados 25 corpos de reféns na Argélia

Os corpos de 25 reféns foram encontrados neste domingo pelas forças especiais da Argélia, que vasculham o campo de exploração de gás do Saara onde um grupo de islamitas armados manteve em cativeiro centenas de trabalhadores, informou a televisão argelina Ennahar.

Questionado pela AFP, seu diretor, Anis Rahmani, indicou que foram encontrados "os corpos de 25 reféns", citando uma fonte da segurança.

Segundo uma testemunha, entre os cadáveres encontrados estão os de nove japoneses sequestrados.

Argel havia anunciado um balanço provisório de 23 pessoas no ataque, além dos 32 extremistas que foram mortos pelo exército. Mas o ministro da Comunicação, Mohamed Saïd, já havia admitido que este número "poderia ser revisto para cima'.

"As forças especiais continuam no campo de gás de Tiguenturin à procura de eventuais novas vítimas, porque o balanço fornecido até o momento pelo ministério do Interior é provisório", declarou Said. "O balanço definitivo será divulgado nas próximas horas".

Testemunhas relataram a violência deste sequestro que durou quatro dias, orquestrado pelo grupo islamita "Aqueles que assinam com sangue", do argelino Moktar Belmokhtar.

De acordo com dois ex-reféns argelinos, nove japoneses foram executados pelos islamitas desde quarta-feira: três tentando escapar de um ônibus, e os outros seis foram mortos nos dormitórios do campo.

"Os terroristas foram diretamente para os quartos dos japoneses, um terrorista gritou para que abrissem a porta com um sotaque americano e, em seguida, disparou", informou à AFP uma das testemunhas, que ainda disse que "eles estavam cientes de nossos procedimentos".

A empresa japonesa JCG informou que dez japoneses ainda estavam desaparecidos no domingo de manhã. Tóquio não quis comentar as declarações das testemunhas.

Os terroristas afirmaram estar agindo em represália à intervenção militar francesa no Mali, que beneficiou de um apoio logístico de Alger.

As forças argelinas, que abateram 32 sequestradores, conseguiram liberar "685 funcionários argelinos e 107 estrangeiros", de acordo com um comunicado do ministério, divulgado sábado à noite na televisão estatal, anunciando um total de 23 mortos, entre estrangeiros e argelinos.

DESAPARECIDOS

A Argélia não informou oficialmente a nacionalidade das vítimas mas se sabe que alguns são de origem ocidental e asiática. Desde quarta-feira, um francês, um americano, dois romenos, e três britânicos foram confirmados mortos por seus países, além de um residente do Reino Unido.

Três outros britânicos, ainda desaparecidos, estão provavelmente mortos, anunciou neste domingo o primeiro-ministro David Cameron.

O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, afirmou que "tudo parece indicar" que um colombiano, funcionário da British Petroleum (BP), que morava em Londres, "estava entre o grupo de pessoas que morreu em um ônibus".

O grupo norueguês Statoil, que explora o campo de gás junto com os grupos britânico BP e argelino Sonatrach, informou que buscas intensivas foram organizadas para encontrar o paradeiro de cinco funcionários noruegueses que ainda estão desaparecidos.

A busca está sendo realizada no próprio campo de exploração mas também na região desértica em volta das instalações além de hospitais e centros médicos em Argel, In Amenas e em outras localidades onde feridos poderiam ter sido evacuados.

A Malásia anunciou que dois de seus cidadãos estão desaparecidos.

Enquanto alguns países ocidentais se mostraram inquietos com a ofensiva das forças argelinas, o ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius, reiterou neste domingo seu apoio à Argel, declarando que "diante do terrorismo, devemos ser implacáveis".

Fabius se mostrou triste pelo fato da Argélia estar sendo culpada pelo número de vítimas na ofensiva, "quando a culpa deveria toda ser dos terroristas".

O presidente americano, Barack Obama, que falou pela primeira vez sobre o conflito na região, julgou no sábado que os "terroristas" islamitas são os responsáveis pela morte dos reféns.

A imprensa argelina saudou a "dureza e a coragem" dos militares argelinos, mas criticou "a incompetência na proteção dos campos de exploração".

No campo de exploração de gás -- que os islamitas ameaçaram explodir na quinta-feira, de acordo com uma gravação divulgada pela agência estatal malinense-- operações em busca de explosivos estão em curso.

O reinício das atividades de produção do complexo "dependerá do tempo que levará a busca por explosivos", explicou o ministro da Energia, Youcef Yousfi, assegurando que o sequestro não diminuiu as exportações de gás do país.


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