Folha de S. Paulo


Governos reformistas vão atrair investimento, diz diretor do Credit Suisse

Alberto Rocha/Folhapress
Sylvio Castro, direitor de investimentos do Credit Suisse
Sylvio Castro, direitor de investimentos do Credit Suisse

Na semana passada, o banco Credit Suisse lançou seu relatório com perspectivas de investimento para o ano que vem. O tom de modo geral é positivo, com aposta em uma retomada das empresas como motor do PIB global no lugar do consumo, fator no qual o crescimento da economia internacional tem se apoiado nos últimos anos.

O otimismo global vale também para o cenário local: na visão do CIO (chief investment officer, ou diretor-executivo de investimentos) do banco, Sylvio Castro, as empresas brasileiras também devem voltar a investir, de olho na retomada do consumo. Nesse caso, contudo, o movimento deve ser mais comedido, diante da volatilidade do cenário eleitoral e do elevado volume de estoques.

O investidor estrangeiro, por outro lado, deve ser menos afetado. Apostando na eleição de um governo reformista, Castro considera que a entrada de capital no Brasil não deve ser prejudicada no próximo ano.

Folha - O governo conta com estrangeiros em seu pacote de concessões e privatizações. Mas as eleições e as incertezas que a envolvem podem afastá-los?

Sylvio Castro - [Os anos de] 2014, 2015 e 2016 foram extremamente turbulentos do lado político, e ainda assim houve média anual entre US$ 60 bilhões e US$ 70 bilhões de investimento estrangeiro direto no Brasil. Neste ano, à medida que ficou clara uma agenda mais reformista, esse volume já subiu uns US$ 20 bilhões.

Se você pensar que o investimento é de longo prazo, esse investidor já olha pelo menos para dois ciclos eleitorais à frente. Partindo da premissa de que nas três grandes eleições na região [Chile, Brasil e México] governos reformistas assumam o poder, vemos sim oportunidade de uma retomada regional.

O líder nas pesquisas até agora é o ex-presidente Lula. Ele é considerado reformista?

Sinceramente, acho muito cedo para fazer qualquer grande prognóstico sobre como qualquer um dos candidatos vai se posicionar em relação à agenda de reformas. Mesmo que sejam boas para todos, reformas criam ruído no curto prazo.

O governo acaba de apresentar uma nova versão da reforma da Previdência, muito mais enxuta do que a original. O quanto isso é ruim?

Esse tema é importantíssimo para uma discussão de Brasil, mas, num contexto de grandes temas globais de investimento, é menos relevante. O que posso falar é que todos os passos, graduais ou não, em direção à sustentabilidade da dívida pública no Brasil são bem-vindos.

O BC tem atrelado a continuidade do ciclo de queda de juros ao avanço das reformas, sobretudo a da Previdência. Se ela não passar, a Selic volta a subir em 2018?

A primeira coisa importante é que a gente já está próximo do fim do ciclo de cortes [da taxa de juros], independentemente da aprovação da reforma. Mas acho improvável que haja uma virada radical do Banco Central se essa discussão da Previdência for postergada alguns trimestres.

O que explica o otimismo do Credit Suisse com os investimentos corporativos na economia global no próximo ano?

À medida que o mercado de trabalho vai ficando mais apertado, é fundamental para empresas buscarem ganhos de produtividade —e daí virão os investimentos.

E de onde pode vir uma retomada mais sólida dos investimentos no curto prazo?

Globalmente, de infraestrutura e defesa, além de uma parte importante relacionada a demografia, a "silver economy" ["economia do cabelo branco"], que vai exigir serviços em saúde e habitação, por exemplo.

No Brasil, energia, serviços de utilidade pública e de logística, transporte. Há ainda uma quantidade espantosa de start-ups aparecendo. Também de serviços para milleniuns [geração nascida na era digital]. Essa geração digital nativa está chegando à faixa etária que a coloca como força econômica e política dominante na sociedade. Essa parte da população tem valores e enxerga a economia e as oportunidades de uma forma diferente da geração anterior. É natural que estratégias de marketing e investimentos se voltem para essa parcela.

RAIO-X

Cargo e carreira

Chief investment officer do Credit Suisse; foi diretor de estratégia de investimento do Goldman Sachs

Formação

Pós-graduação em finanças pela London Business School


Endereço da página: