Folha de S. Paulo


Com reflexo da Lava Jato, receita da Odebrecht cai para nível de 2013

Jaime Saldarriaga/Reuters
Obra da Odebrecht em Sabana de Torres, na Colômbia
Obra da Odebrecht em Sabana de Torres, na Colômbia

Enquanto a Operação Lava Jato se dedica a digerir as centenas de horas de depoimentos da cúpula da Odebrecht, os executivos que restaram na empresa esforçam-se para administrar o estrago feito nas finanças do grupo.

Cálculos preliminares, aos quais a Folha teve acesso, mostram o tamanho do dano: as receitas caíram de R$ 132 bilhões em 2015 para R$ 90 bilhões em 2016, uma perda de 32% que levou o faturamento ao menor nível desde 2013.

O buraco teria sido maior se não fosse a petroquímica Braskem, que passou a responder por mais de 60% das receitas da Odebrecht com o encolhimento dos negócios da construtora que deu origem ao grupo. Sem a Braskem, a perda de receita beira os 60%.

O faturamento ainda é expressivo e suficiente para manter a Odebrecht entre os principais grupos empresariais brasileiros. Mas os números indicam que a decadência do conglomerado baiano se acelerou nos últimos meses.

Até a metade do ano passado, a crise não se refletia nos números. O grupo faturou R$ 126,6 bilhões nos 12 meses findos em junho de 2016, 13% mais do que nos 12 meses imediatamente anteriores.

A situação piorou com a decisão de colaborar com a Lava Jato e o conhecimento dos crimes cometidos por seus executivos. Na construtora, segunda maior fonte de receitas da Odebrecht, bilhões em obras foram limados da carteira de projetos.

A Braskem aumentou suas vendas, mas ainda assim a petroquímica registrou prejuízo no ano passado, o que deve pressionar ainda mais o resultado do grupo. Os números serão conhecidos com a divulgação do balanço, que era para ter saído neste mês, mas ficou para maio ou junho.

CUSTO DA PROPINA

Esse atraso deve-se à necessidade de adequar os dados financeiros do grupo aos crimes confessados pelos executivos. É preciso incorporar ao balanço a montanha de dinheiro movimentada no exterior para comprar políticos e funcionários públicos.

De 2006 a 2014, o grupo afirma ter distribuído cerca de US$ 3,4 bilhões em propina, quase R$ 11 bilhões pelo câmbio atual. Esse dinheiro e os bônus milionários pagos a executivos por meio de caixa dois no exterior não foram contabilizados de forma correta nos balanços. Tampouco houve o devido recolhimento de impostos, e os tributos terão de ser pagos agora.

A situação da Odebrecht é acompanhada de perto por bancos e investidores. Os pagamentos aos credores só virão no futuro se ela continuar de pé. As empresas do grupo baiano deviam R$ 93 bilhões na praça ao final de 2016 e tinham R$ 17 bilhões em caixa.

Parte das dívidas será passada para a frente com a venda de alguns negócios. Esse processo, porém, tem andado mais devagar do que a empresa esperava. Dos R$ 12 bilhões postos à venda, apenas cerca de R$ 2 bilhões entraram no caixa até agora.

Os R$ 3 bilhões obtidos com a venda da Odebrecht Ambiental deverão ser usados para socorrer a construtora e o braço do setor imobiliário. A ideia inicial era usar o dinheiro para quitar dívidas com bancos e resgatar ações da Braskem dadas em garantia.

A Odebrecht afirmou por meio de nota que continua com uma operação robusta e está concentrada no retorno de suas atividades normais após firmar o acordo de leniência com as autoridades. Disse ainda que está avançando na venda de ativos e na reestruturação de negócios afetados pela recessão.


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