A alta de 39% da Bovespa em 2016 não significou a entrada de mais recursos estrangeiros no mercado de ações brasileiro, na comparação com os dois anos anteriores.
O saldo líquido entre as compras e vendas de ações feitas por esses investidores ficou positivo R$ 14,32 bilhões no ano passado, uma queda de 12,6% ante os R$ 16,39 bilhões de 2015. Em 2014, houve a entrada de R$ 20,34 bilhões.
Os investidores estrangeiros são responsáveis por mais da metade dos negócios na Bolsa.
Em julho e outubro, o superavit de recursos externos no acumulado do ano chegou a superar o total de 2015. O principal motivo foi o otimismo dos investidores com a mudança de governo.
Com o impeachment da presidente Dilma Rousseff, o mercado apostou as fichas na recuperação da economia brasileira sob o governo de Michel Temer.
Saldo de capital externo na Bolsa em 2016 - em R$ bilhões
Entretanto, o quadro mudou em novembro e dezembro, com forte saída estrangeiros do mercado acionário brasileiro.
Somente em dezembro, houve a saída de R$ 668 milhões de capital externo na Bolsa. Em novembro, foram R$ 2,84 bilhões.
Raphael Figueiredo, analista da Clear Corretora, credita essa reversão à eleição do republicano Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, em novembro. "A vitória de Trump trouxe a expectativa de aumento dos gastos públicos e de aceleração da economia americana, o que deve levar a uma alta mais rápida dos juros daquele país em 2017", afirma.
Além disso, o Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) elevou as taxas de juros em dezembro pela primeira vez em um ano.
Segundo o analista, a perspectiva de juros mais altos na maior economia do mundo tira a atratividade de mercados emergentes, com o Brasil. "Muitos estrangeiros vieram para cá para se beneficiar do diferencial de juros, pegando emprestado lá fora para aplicar aqui e ganhar com os juros elevados. Isso perdeu um pouco de força com Trump."