Folha de S. Paulo


Anatel abre processo para investigar atuação de Nelson Tanure na Oi

Silvia Zamboni/Folhapress
Governo prepara medida que abre caminho para intervenção na Oi
Governo prepara medida que abre caminho para intervenção na Oi

A participação do empresário Nelson Tanure, do fundo Société Mondiale, sócio da Oi, na última reunião do conselho de administração da Oi levou a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) a abrir uma investigação que pode terminar em mais sanções à empresa que está em recuperação judicial com uma dívida de R$ 65,4 bilhões.

Tanure entrou em acordo com os sócios da Oi para que dois de seus representantes ocupem assentos no conselho de administração da operadora –grupo que hoje decide o comando da empresa.

Mas, para efetivamente ocuparem os assentos, é preciso a anuência da Anatel –o que ainda não aconteceu. Notícias veiculadas recentemente revelaram que no final de outubro, Tanure não só esteve presente em uma reunião como discutiu com Rafael Mora, representante do grupo de sócios portugueses da Pharol, maior acionista da Oi, com 18% de participação.

Nesta terça-feira (8), o superintendente de Competição da Anatel Carlos Baigorri afirmou que o "despacho determina que os indicados [às vagas do conselho da Oi] se abstenham de participar das reuniões enquanto não houver a anuência prévia".

Ainda segundo Baigorri, para cada reunião que os representantes participarem a Oi terá de pagar R$ 50 milhões e a agência, a partir de agora, poderá enviar um representante para acompanhar as reuniões do conselho da Oi.

O episódio levou a agência a abrir um procedimento investigatório para apurar se os representantes de Tanure já vinham participando das reuniões antes do dia 26 de outubro. Caso isso se confirme, a empresa poderá sofrer sanções, que vão desde a advertência até a caducidade dos contratos.

Leo Pinheiro - 13.out.2005/Valor Economico
Rio de Janeiro - 13/10/2005 - Empresas Nelson Tanure, Empresario da Apvar e Presidente do Jornal do Brasil. Assembleia de Credores da Varig. Foto: Leo Pinheiro/Valor Economico ***FOTO DE USO EXCLUSIVO FOLHAPRESS*** ORG XMIT: AGEN1103030110388982
O empresário Nelson Tanure

INTERVENÇÃO

A disputa entre os acionistas vem causando mais tensão no já complicado processo de recuperação judicial da Oi. Com uma dívida de R$ 65,4 bilhões, a empresa precisa aprovar seu plano de recuperação para evitar a falência. Mas os sócios –Pharol e Tanure– disputam o comando da companhia e os credores privados não se entendem com os públicos sobre a política de descontos para o pagamento das dívidas.

Os credores públicos –Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNDES e a própria Anatel– não aceitam dar descontos. Pelo plano, eles chegam a 70% em alguns casos. Quem não aceitar, só receberá o valor integral depois de 10 anos em parcelas semestrais.

Enquanto o impasse entre os credores não se resolve, o juiz responsável pela recuperação, no Rio de Janeiro, pediu aos sócios que entrassem em acordo. Os portugueses aceitaram abrir mão de dois assentos no conselho em favor do fundo Société Mondiale, ligado a Tanure. Mas para tomarem posse precisam do sinal verde da agência.

Nos bastidores, o governo trabalha com a possibilidade de intervenção. Como a Folha revelou na edição desta segunda-feira, está em preparo uma medida provisória modificando a lei de recuperação judicial para que a União possa intervir em todo tipo de serviço público -seja prestado em regime público (concessões) ou privado (autorizações e permissões).

Segundo o presidente da Anatel, Juarez Quadros, caso a situação da Oi não se resolva por si só, a ideia do governo -que também é acionista por meio do BNDES- é baixar a medida provisória, destituir a diretoria da empresa e, eventualmente, até negociar a venda da empresa.

OUTRO LADO

Em comunicado, o fundo Société Mondiale disse que foi comunicado da medida cautelar expedida pela Anatel e que respeitará a decisão de efeito imediato.

"Não obstante, o fundo entende que sempre cumpriu rigorosamente as instruções estabelecidas pelo órgão regulador e se coloca à disposição para discutir o tema diretamente com a Anatel."

O Société Mondiale disse ainda estar "convicto de que os acionistas da Oi e as autoridades regulatórias compartilham dos mesmos objetivos: o soerguimento da companhia, a melhoria da qualidade dos serviços prestados aos mais de 70 milhões de clientes e a preservação de mais de 140 mil empregos diretos e indiretos."


Endereço da página:

Links no texto: