Folha de S. Paulo


Veja fatores que impulsionam a recuperação dos mercados emergentes

Tony Gentile - 9.ago.2011/Reuters
Homem em frente a painel em Roma
Homem em frente a painel em Roma

Ao que parece, não há o que pare a recuperação atabalhoada dos mercados emergentes.

As ações e moedas dos mercados emergentes dispararam para suas cotações mais altas em 12 meses, e os rendimentos dos títulos desses países caíram ainda mais, para recordes de baixa. Abaixo, veja um apanhado dos fatores que estão propelindo, impulsionando a demanda por ativos dos mercados emergentes:

1- A importância do dólar para os mercados emergentes

A queda do dólar, graças a indicadores contraditórios sobre a economia americana que vêm mantendo o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) fora da parada, desempenha papel importante. Isso eleva as cotações das moedas emergentes, ajuda a segurar suas taxas de juros e produz sentimentos positivos no mercado quanto a essa categoria de ativos.

"A perspectiva de juros baixos por mais tempo, de parte do Fed, estende a busca dos investidores por rendimento. Também compra tempo para que os mercados emergentes implementem reformas estruturais, como a recente reforma tributária na Índia e o esforço renovado da Indonésia por reforma fiscal", diz o grupo BlackRock. "Isso pode permitir que determinados mercados emergentes se mostrem mais resistentes quando o Fed por fim normalizar as taxas de juros".

O índice de moedas de mercados emergentes do banco JPMorgan subiu em mais de 10% desde seu ponto mais baixo, em janeiro, para seu pico dos últimos 12 meses, com alta de quase 25% para o real brasileiro. Este mês viu o rand sul-africano, o peso mexicano e o rublo russo liderando as moedas emergentes em termos de alta.

"A projeção de moedas mais firmes para os mercados emergentes reflete o apoio que as taxas de juros baixas nos Estados Unidos oferecem ao alto rendimento e aos países com grandes superávits em conta corrente", disseram os analistas do JPMorgan.

2- Alta do petróleo e das commodities sustenta os mercados emergentes

Os rumores renovados sobre um acordo para limitar a produção de petróleo levou os preços do petróleo cru para perto de US$ 50 por barril, oferecendo mais uma razão para otimismo dos investidores quanto aos mercados emergentes. A lentidão no preço do petróleo e a preocupação quanto às perspectivas de preço das commodities vinham causando arrasto na visão do mercado quanto às economias emergentes. O Fundo Monetário Internacional (FMI) em junho mencionou os preços mais baixos das commodities como razão para rebaixar suas perspectivas quanto ao crescimento mundial este ano.

4- Os investidores estão aumentando suas apostas nos mercados emergentes

Nas últimas seis semanas, o recorde de US$ 18 bilhões fluiu para os fundos de títulos de mercados emergentes, de acordo com o Bank of America Merrill Lynch e a EPFR.

O Bank of America Merrill Lynch descreve a situação como "o grande ponto de inflexão nos fluxos de dívidas dos emergentes", uma corrida que marca uma reviravolta ante o período de três anos entre o começo de 2013 e o começo de 2016, durante o qual mais de US$ 100 bilhões foram retirados dessa categoria de ativos, reduzindo seu valor total à metade.

O Bank of America Merrill Lynch diz que o mais importante é que isso "agora está se tornando um ponto de inflexão nos fluxos de ativos de e para os mercados emergentes". Os fundos de ações de mercados emergentes captaram US$ 1,3 bilhão na semana passada, que foi a sexta semana consecutiva de saldo positivo.

O índice MSCI de ações de mercados emergentes subiu em 32,2%, de seu ponto mais baixo em janeiro, atingindo sua marca mais alta em 13 meses.

"Há posições claramente sendo formadas, mas depois de cinco anos de mau desempenho, acreditamos que vá demorar mais tempo para que a distribuição do mercado se altere significativamente. Continuamos alegremente a dar peso adicional a essa categoria ampla de ativos de mercados emergentes, em nossas carteiras", disseram os estrategistas do JPMorgan.

Segundo o BlackRock, "as moedas e balanços comerciais se ajustaram e vemos menos risco de uma alta acentuada no dólar dos Estados Unidos. Gostamos de ações com orientação aos mercados internos e de mercados emergentes com ímpeto de reforma".

5- A busca mundial por rendimento privilegia os títulos de dívida emergentes

Uma onda de cortes de taxas de juros e de aquisição de títulos por bancos centrais, nos mercados desenvolvidos, conduziu o rendimento de muitos papéis de países desenvolvidos ao território negativo, o que empurrou o dinheiro para títulos de dívida de mercados emergentes, que oferecem rendimentos mais altos.

Os estrategistas do JPMorgan afirmam que "o mundo emergente, quer nos títulos, moedas ou ações de alto dividendo, continua a oferecer cerca de 6% de rendimento e, com isso, não pode ser ignorado, se você precisa de renda".

Os rendimentos dos títulos públicos de mercados emergentes caíram em 45 pontos básicos até agora este ano, para um novo recorde de baixa de 4,38%, de acordo com índices do Bank of America.

A BlackRock diz gostar de "títulos de dívida em moeda local no Brasil, Índia, Indonésia e Polônia, para investidores que suportam volatilidade", mas é melhor "manter a cautela quanto aos exportadores de commodities".

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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