Folha de S. Paulo


Crítica

Pioneiros automotivos têm obra que não engata 3ª marcha

Antes de afivelar os cintos, senhores passageiros, um aviso: prepare-se para uma viagem com uma série de paradas e em que o motorista não chega a engatar a terceira marcha.

A experiência com Drive!: Henry Ford, George Selden, and the Race to Invent the Auto Age, obra sobre os pioneiros na invenção do automóvel, é muito similar a esse alerta.

O leitor atravessará muitos capítulos para 384 páginas (24), passando por histórias e até continentes diferentes, sem, no entanto, chegar a empolgar.

Esse é um dos problemas de Drive!, que peca na ambição de seguir seu título (que, em inglês, tanto pode ser dirigir como a determinação de um inventor).

Ele quer conduzir o leitor por várias trilhas (como as diversas corridas de automóveis que surgiram na primeira década do século passado ou invenções que pouco interessam aos não entendidos), mas poucas empolgam e as que começam a entusiasmar se encerram no capítulo, acabando com as esperanças de uma viagem mais interessante.

O resultado é que até o tema principal do livro de Lawrence Goldstone derrapa.

A disputa judicial envolvendo a patente do automóvel entre Henry Ford (que revolucionou a indústria automobilística com seu modelo T) e George Selden (inventor que, no fim das contas, serviu de fachada para as montadoras rivais de Ford) vira uma história aborrecida, que poucas novidades traz em relação a outros livros.

Goldstone prima, e é saudável que faça isso, pelas críticas a Ford. Elas são bastante merecidas. Afinal, o homem que é considerado um gênio (são frequente as comparações com Steve Jobs, o criador da Apple) também era cheio de falhas: antissemita, ingrato com empregados que deram origem a ideias inovadoras e também investidores, repressor do movimento dos trabalhadores.

Pena que ele não faça o mesmo com outros pioneiros. Pouco ficamos sabendo do caráter de criadores de marcas como Oldsmobile (que foi a maior montadora americana em vendas, antes de ser superada pela Ford), Buick, Packard e Cadillac.

Além disso, um outro problema da obra é que, apesar de elogiar a fabricação europeia (mais de uma vez diz que eram melhores que os americanos), ela é centrada no que acontecia nos Estados Unidos.

As histórias sobre inovadores como Karl Benz, Gottlieb Daimler e dos irmãos Renault podem ser encontradas com detalhes muito mais saborosos em artigos da Wikipedia.

Na reta final, a conclusão é que o cinto de segurança só era necessário por respeito às normas de segurança. Em nenhum momento, o motorista ameaçou acelerar e surpreender o passageiro.

Drive!: Henry Ford, George Selden, and the Race to Invent the Auto Age
AUTOR Lawrence Goldstone
EDITORA Ballantine Books
QUANTO R$ 48,95 na amazon.com.br (384 págs.)
CLASSIFICAÇÃO regular


Endereço da página: