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BHP Billiton provisiona US$ 1,3 bilhão para desastre de Mariana (MG)

Alexandre Rezende/Folhapress
MARIANA, MG, 07.07.2016: BARRAGENS-MG - Ruínas das casas de Bento Rodrigues, subdistrito de Mariana (MG), após a invasão da lama de rejeitos da Samarco em 2015. A construção de uma estrutura que alagaria parte da antiga vila de Bento Rodrigues é o principal motivo de discórdia entre a Samarco e órgãos como o Iphan, Ibama e Ministérios Públicos. (Foto: Alexandre Rezende/Folhapress)
Ruínas das casas de Bento Rodrigues após a invasão da lama de rejeitos da Samarco em 2015

A BHP Billiton anunciou que seus lucros seriam reduzidos em entre US$ 1,1 bilhão e US$ 1,3 bilhão por conta do colapso fatal da barragem da Samarco, em Mariana (MG). A Samarco é uma joint venture operada pela empresa. Os resultados anuais da BHP serão divulgados no mês que vem.

A BHP, maior mineradora do mundo por valor de mercado, informou que a provisão equivalia a uma participação de 50% nos custos estimados de remediação e reparos, sob um acordo básico com o governo brasileiro.

A provisão contábil surge no momento em que a BHP se prepara para reportar o maior prejuízo financeiro em sua história corporativa, devido à queda prolongada nos preços das commodities e a outras responsabilidades associadas ao desastre da Samarco e às suas operações petroleiras nos Estados Unidos.

"O reconhecimento dessa provisão demonstra nosso apoio em longo prazo à recuperação das comunidades e do meio ambiente afetados pela tragédia da Samarco", disse Andrew Mackenzie, presidente-executivo da BHP. "E a crença que temos em que o acordo é o mecanismo mais apropriado para fazê-lo".

A mineradora brasileira Vale, parceira de joint venture da BHP Billiton, anunciou que constituiria uma provisão de US$ 1,2 bilhão no anúncio de seus resultados na quinta-feira.

O colapso de uma barragem na mina de Samarco, em novembro, matou 19 pessoas, destruiu comunidades inteiras e deixou 700 pessoas desabrigadas, causando ira generalizada no país.

Ainda que o acordo entre a Samarco e o governo brasileiro tenha sido ratificado em maio, um tribunal mais tarde o suspendeu, em uma decisão que pode restaurar o pedido inicial de US$ 6 bilhões em indenização. A BHP e seus parceiros estão apelando da decisão.

Além disso, promotores públicos brasileiros abriram um processo civil contra a Samarco solicitando R$ 155 bilhões (US$ 44 bilhões) em indenização, em maio. "A Samarco e seus acionistas continuam a acreditar que o acordo oferece uma estrutura efetiva de longo prazo para remediar e compensar os impactos do colapso da barragem de Samarco", afirmou a BHP.

O Citi afirmou em nota de pesquisa que a suspensão do acordo representa risco financeiro para a BHP, mas acrescentou acreditar que o acordo atual cobre adequadamente os custos de compensação e remediação associados ao desastre. A BHP constituiu uma provisão de US$ 1,2 bilhão, anterior aos impostos, com relação à Samarco, ao anunciar seus resultados semestrais em fevereiro.

O Caminho da Lama

A mineradora informou que sua mais recente provisão de entre US$ 1,1 bilhão e US$ 1,3 bilhão refletia a incerteza sobre as operações da Samarco — a BHP esperava que a mina fosse reaberta este ano, e começasse a gerar caixa para cobrir seu passivo. Mas a mina ainda não recebeu licença do governo para reabrir, o que forçou a BHP a alocar US$ 118 milhões em fundos à Samarco para trabalhos de remediação e estabilização.

Os analistas do Citi disseram presumir que um reinício poderia não ocorrer até 2018, o que desperta questões sobre a responsabilidade judicial pelos US$ 3,8 bilhões em dívidas da Samarco. "Tecnicamente, não existe recurso para a BHP/Vale, mas questionarmos se eles poderiam abandonar suas responsabilidades dadas as futuras implicações em termos de acesso aos mercados de capitais, para financiamento", afirmou o Citi.

A BHP, que foi fundada em Broken Hill, na Austrália, em 1885, deve reportar seus resultados em 16 de agosto. O UBS prevê um prejuízo formal de US$ 6,8 bilhões e um lucro subjacente de US$ 803 milhões. As ações da BHP Billiton cotadas em Sydney mostraram alta de 0,7%. para 20 dólares australianos, na quinta-feira.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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