Folha de S. Paulo


análise

Temer aponta direção correta, mas velocidade parece lenta

Taxas de juros altas no Brasil são tema recorrente. Condições para queda de taxa de juros partem de duas frentes. Primeiro, a inflação esperada (pelo mercado e nas projeções dos modelos do BC) tem que estar na meta. Segundo é preciso que haja um ajuste fiscal consistente, que crie condições de queda de juros de maneira mais estrutural e alivie o peso excessivo presente na política monetária.

Para entender as razões do fiscal como condição "sine qua non", é importante entender que a política monetária veio fazendo o trabalho equivalente ao do titã Atlas. Literalmente carregando o mundo nas costas.

Os culpados foram políticas fiscais e parafiscais muito expansionistas, que expandiram o crédito e pioraram as expectativas de solvência fiscal (não precisamos estar em dominância fiscal para esse ponto ser verdadeiro).

Os empréstimos subsidiados feitos pelo BNDES causaram uma distorção na economia, não permitindo a alocação de recursos de maneira eficiente. Um estudo mostra que os tomadores de empréstimo do BNDES são, no geral, empresas grandes e que não precisariam desses recursos para serem competitivas.

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Ademais, por ser um recurso com juros mais baixos, para manter a mesma taxa média da economia acaba aumentando as das demais modalidades. Outro problema é que, por ser pouco sensível à politica monetária, dificulta o trabalho da mesma obstruindo o canal de crédito.

Por esses motivos, o recontrole fiscal e parafiscal abre espaço para um alívio na politica monetária para manter a inflação sob controle.

Além disso, o fiscal descontrolado aumenta o prêmio de risco e deprecia a taxa real de câmbio. A PEC que limita os gastos, a reforma da Previdência com o estabelecimento de idade mínima e desvinculação de pensões do salário mínimo formam o início desse ajuste necessário, mas ainda não é suficiente.

O caminho é longo.

O primeiro teste será feito depois da votação do impeachment para medir o ímpeto de controle fiscal do governo Michel Temer. O que foi feito até agora está na direção certa, mas a velocidade parece um pouco lenta.

Portanto, resolvida a convergência da inflação e expectativas para a meta de 4,5%, podemos pensar que exista espaço para queda dos juros de maneira mais estrutural se for bem encaminhado o ajuste fiscal.

É possível voltar a pensar em juros de um dígito no Brasil. Mas dessa vez de maneira estrutural. Nossa percepção é que a primeira queda de juros ocorrerá em outubro. Oxalá seja verdade.

LUIZ FERNANDO FIGUEIREDO, ex-diretor de Política Monetária do BC, é sócio-fundador e presidente-executivo da Mauá Capital
ALEXANDRE DE ÁZARA é sócio e economista-chefe da Mauá Capital


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