Folha de S. Paulo


Embargo de SC deixa moluscos mais raros e provoca prejuízos

Nilson Otávio Teixeira - 18.jun.2015/Epagri
Florianópolis- SC, Brasil- O governo de Santa Catarina estima que a produção de moluscos tenha crescido ao menos 13% no ano passado, em relação ao ano anterior. Os números foram divulgados na última sexta-feira (19) e, conforme o órgão, o volume comercializado pode ter chegado a R$ 70 milhões no período.Segundo o governo, há 610 maricultores no estado e, juntos, eles movimentaram 21.553 mil toneladas de ostras, mexilhões e vieiras. Os dados fazem parte da Síntese Informativa da Maricultura 2014, feita pelo Centro de Desenvolvimento em Aquicultura e Pesca da Epagri
O governo de Santa Catarina proibiu a extração de alguns moluscos por risco de contaminação

O embargo estadual imposto há 45 dias na extração de ostras, vieiras e mexilhões em Santa Catarina, após o acúmulo atípico de algas e o risco de contaminação por uma toxina, já provoca prejuízo de R$ 6 milhões no setor.

A estimativa é da FEAq (federação das empresas de aquicultura) do Estado e do governo catarinense. A anomalia foi detectada em 25 de maio, e a extração, imediatamente suspensa. "O quadro é extremamente alarmante", afirma Fábio Brognoli, vice-presidente da FEAq.

Com volume anual de 20 mil toneladas, Santa Catarina é responsável por 98% da produção nacional dos três tipos de molusco. Do total, quase 60% são destinados para São Paulo e Rio, os maiores mercados consumidores.

A extração nacional é a principal fonte de ostras, vieiras e mexilhões consumidos pelos brasileiros. Em 2015, o país importou só 7.700 toneladas de todos os tipos de molusco, incluindo lulas e polvo, de acordo com o Ministério da Agricultura.

Os moluscos, que precisam ser consumidos em curto espaço de tempo, faltam no mercado. Para Rio e São Paulo, as ostras catarinenses são enviadas vivas e devem ser consumidas em até quatro dias.

O acúmulo anormal das algas restringe a venda e o consumo dos moluscos. As algas contêm toxinas que, se ingeridas, causam dores abdominais, vômitos e diarreia.

Em 20 anos de produção comercial de ostras, mexilhões e vieiras em Santa Catarina, nunca o acúmulo de algas com toxinas foi tão alto e durou tanto tempo.

Já houve suspensões por causa do problema, em menor intensidade, em 2007, 2008 e 2014.

Na costa catarinense, há 23 áreas destinadas ao cultivo dos três tipos. Elas são demarcadas com boias. Até sexta (8), só 11 estavam livres da toxina e haviam sido liberadas para extração e venda dos três moluscos. Outras 11 áreas estavam autorizadas só para ostras, mais resistentes à toxina.

Os maricultores estão apreensivos porque, apesar de 95% da produção de ostras estar restabelecida, cerca de 80% da produção de mexilhões, os mais cultivados, ainda está embargada.

A ostra é vendida pelos produtores a R$ 7 a dúzia, mas representa menos de 15% da produção local. Os mexilhões, vendidos por R$ 3 a dúzia, representam 84% do volume extraído. O restante está a cargo das vieiras, mais raras, vendidas a R$ 32 a dúzia.

RESTAURANTES

Nos restaurantes de Florianópolis especializados em frutos do mar, a frequência de clientes diminui em até 20% por causa do embargo aos moluscos.

Mas a queda não foi generalizada. Alguns proprietários conseguiram manter o movimento oferecendo aos clientes outros pratos, como a tainha, peixe abundante no inverno.

O presidente do Sindicato de Bares, Hotéis e Restaurantes da capital catarinense, Tarcísio Schmitt, diz que a situação é preocupante.

"Só nos resta lamentar. Sabemos que [o excesso de algas] é um problema incontrolável, que depende da natureza. Mas estamos profundamente tristes."

Os donos de restaurante dizem que a liberação gradativa das áreas de cultivo de ostras, iniciada em 22 de junho, ainda não restabeleceu o movimento, porque há o que chamam de "clima de desconfiança" em relação à qualidade do produto.


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