Folha de S. Paulo


Nas empresas, mais mulheres assumem cargos de chefia

Enquanto o presidente interino, Michel Temer, anuncia seu ministério sem mulheres, a presença feminina na chefia de empresas privadas no Brasil dá sinais de progresso.

O número de mulheres em cargos de presidência de empresas de médio porte no país subiu de 5% em 2015 para 11% no início deste ano, de acordo com levantamento da consultoria Grant Thornton.

Em 2012, essa participação era de 2%. Madeleine Blankenstein, sócia da Grant Thornton, ressalva que a média brasileira ainda é inferior à de outros países e os números aqui oscilam muito, impedindo a percepção de tendência de alta consolidada.

"Ainda falta cultura que incentive as mulheres. Faltam exemplos, como vemos em multinacionais estrangeiras", afirma Blankenstein.

Entre os nomes femini- nos nas presidências das grandes empresas brasileiras, estão Claudia Sender, da TAM, Ana Marta Horta Veloso, da Light, e Anna Christina Saicali, da B2W.

Divulgação
Solange Maria Pinto Ribeiro, presidente da neoenergia
Solange Maria Pinto Ribeiro, presidente da neoenergia

Outro nome conhecido, Luiza Trajano, saiu do cargo na Magazine Luiza em 2015.

As empresas brasileiras ainda apresentam uma média geral de 19% de cargos do alto escalão ocupados por mulheres, índice abaixo da média global, de 24%, segundo a Grant Thornton.

Fernando Andraus, diretor da empresa de recrutamento Page Executive, diz ter registrado um aumento de 15% no volume de colocações de mulheres em cargos altos nos últimos dois anos. Mas o perfil das candidatas ainda é majoritariamente voltado às diretorias de recursos humanos e marketing.

"É difícil responder objetivamente por que isso ocorre. Nós não fazemos distinção. Tipicamente, é perto dos 30 ou 40 anos a fase em que se define se a pessoa vai se tornar um diretor mais parrudo ou um presidente", afirma.

Luiz Carlos Murauskas - 7.dez.2015/Folhapress
Claudia Sender, presidente da TAM, em seu escritorio
Claudia Sender, presidente da TAM, em seu escritorio

É nessa fase da vida também que a mulher costuma ter filhos, prejudicando a capacidade de dedicar noites ou domingos ao trabalho.

"Não digo que os resultados ficam comprometidos. Mas eles não são excedidos. Se há cinco pessoas para uma diretoria, quem é escolhido? Aquele que tem melhor competência e melhor resultado. E esse resultado vem dessa dedicação de horas."

A mudança cultural, na opinião de Andraus, já existe e poderá ficar perceptível nas próximas gerações de diretores e presidentes.

"Hoje você vê mais homens pedindo tempo para dedicar à família. Vejo a mudança na atual geração de gerentes."

AMAMENTAÇÃO

Engenheira de formação, a presidente da Neoenergia, Solange Ribeiro, relata ter tirado uma licença-maternidade de apenas dois meses após o nascimento de sua filha, que tem hoje 13 anos.

"Amamentei até os dez meses. Quando eu tinha que viajar para os Estados Unidos, deixava o leite e voltava no dia seguinte. Tinha esse combinado com a empresa."

Mãe aos 40, ela conta que a carreira já havia avançado quando engravidou. Mas também atribui à compreensão do marido a capacidade de manter a rotina equilibrada para garantir mais tempo com a filha.
Há outras diretoras mulheres na Neoenergia, mas Ribeiro diz que não tem uma política deliberada para isso.

"Acho que é muito melhor quando tem a diversidade porque as capacidades são complementares. Um grupo que tem homens e mulheres está mais apto a funcionar como reflexo da sociedade. Traz equilíbrio de opinião, mas não precisa trazer mulheres na marra", afirma.


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