Folha de S. Paulo


Volkswagen vai recomprar carros nos EUA envolvidos em fraude de emissões

A Volkswagen vai comprar até 480 mil de seus carros nos Estados Unidos que continham o dispositivo para fraudar dados de emissões de poluentes.

Em setembro de 2015, veio a público que a montadora havia instalado um software que fraudava os testes de laboratório –os carros emitiam menos poluentes nas avaliações do que no uso real– em 11 milhões de veículos em todo o mundo, em várias marcas de seus automóveis.

A medida, anunciada nesta quinta-feira (21), faz parte de um acordo firmado entre a montadora alemã e os reguladores de um tribunal da Califórnia.

Os termos do acordo, incluindo a compensação para os proprietários dos veículos nos Estados Unidos e os custos para a VW, ainda estão sendo negociados, mas devem envolver bilhões de dólares.

Analistas estimam que a "recompra" dos veículos custará mais de € 7 bilhões, e pode se tornar a maior da história.

A empresa será obrigada também a destinar recursos para o desenvolvimento de tecnologia verde automotiva.

Charles Breyer, juiz distrital da corte em São Francisco, na Califórnia, disse que existe um movimento definitivo para resolver a questão. "Estou extremamente satisfeito em informar que as partes chegaram a um plano concreto". Ele reforçou que ainda há "muito trabalho a ser feito em termos de detalhes e documentação".

Breyer deu até o dia 21 de junho para a empresa apresentar os detalhes da proposta ao tribunal, que está supervisionando a consolidação de mais de 500 ações judiciais movidas contra a Volkswagen.

Em comunicado, a montadora disse que o acordo "é um passo importante no caminho para fazer as coisas certas. A Volkswagen pretende compensar seus clientes plenamente e remediar qualquer impacto sobre o meio ambiente causado pelas emissões de diesel em excesso."

Por enquanto, a proposta atinge os motores a diesel 2.0 litros. Segundo o juiz, está em discussão ainda o que será feito com cerca de 90 mil veículos com motor 3.0 litros –a maioria da Volkswagen e Audi– também equipados com o dispositivo. Breyer disse que a VW planeja oferecer aos consumidores a opção de ter seus veículos comprados ou modificados para atender aos padrões de emissões.

SEM ALÍVIO

Após meses de negociação, o diálogo entre a VW e reguladores norte-americanos está, no entanto, longe de um fim. A montadora ainda enfrenta a perspectiva de ser processada por clientes e investidores, e a conta final do escândalo pode chegar, segundo analistas, a dezenas de bilhões de dólares.

Desde setembro de 2015, quando o escândalo veio a público, as ações da VW caíram cerca de 20%.

Embora a Volkswagen tenha chegado relativamente rápido a um acordo com as autoridades europeias sobre uma correção para os carros afetados, a empresa tem precisado se esforçar mais para encontrar uma solução que satisfaça os reguladores dos EUA.

Alguns carros da Volks emitiriam, segundo a Agência de Proteção Ambiental em Washington, um nível de poluentes até 40 vezes maior do que o permitido nos Estados Unidos.

Ao se oferecer para comprar de volta os carros nos EUA, é provável que aumente a pressão sobre a VW para fornecer um "pacote de compensação" mais generoso também a clientes europeus.

A empresa iniciou um "recall" de carros afetados na Europa, para consertá-los, mas não foi oferecida, até o momento, qualquer compensação financeira para os clientes, que podem ver o valor de seus veículos cair devido ao escândalo.

BALANÇO

Na próxima semana, com muito atraso, a Volkwagen deve divulgar seu resultado anual, o que dará uma dimensão do custo total do caso. Até agora, a VW já gastou € 6,7 bilhões, mas alguns analistas estimam que a conta final pode ultrapassar US$ 50 bilhões.

Os resultados de uma investigação sobre o caso, conduzida pelo escritório de advocacia Jones Day a pedido da VW, também devem ser divulgados até o final de abril.


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