Folha de S. Paulo


China reforça controles para conter fuga de capitais

A China está reforçando os controles improvisados de capital que impôs a fim de conter a aceleração na fuga de capitais, e os bancos do país restringiram as compras de dólares apesar da feroz demanda dos cidadãos e empresas.

A autoridade regulatória do câmbio chinês ofereceu orientação verbal aos bancos da cidade de Shenzhen instruindo-os a limitar as compras de dólares por indivíduos e empresas, de acordo com uma pessoa informada sobre a situação.

O "Shanghai Securities News", um boletim informativo oficial, citou gerentes de bancos de Shenzhen, entre os quais o Commercial Bank of China e o Bank of China, como tendo declarado que a demanda por dólares dos Estados Unidos e Hong Kong cresceu muito do ano começo do ano para cá. Os residentes da China têm licença para adquirir até US$ 50 mil anuais, e a quota é zerada no início de cada ano.

"O foco deles é Shenzhen e Xangai porque é lá que a demanda realmente estourou", disse a fonte.

O yuan se estabilizou na sexta-feira, mas está a caminho de uma queda de 0,8% na semana, sua pior desde que o banco central chinês anunciou, de surpresa, em agosto que permitiria que a moeda se desvalorizasse.

As reservas cambiais chinesas caíram em US$ 108 bilhões em dezembro, um valor recorde e sinal de aceleração da fuga de capitais e de gastos pelo banco central a fim de sustentar a cotação cambial do yuan.

O mais recente aperto surgiu depois que o banco central restringiu temporariamente as operações de alguns bancos estrangeiros na China, entre os quais o Standard Chartered e o Deutsche Bank, impedindo-os de realizar certas transações de câmbio cujo objetivo é promover arbitragem entre as taxas de câmbio interna e offshore do yuan.

Os importadores e exportadores chineses há muito se mostram sensíveis a viradas nas expectativas de câmbio, e calibram sua gestão de moedas estrangeiras levando em conta esse fator. A novidade, de acordo com bancos e operadores de mercado, é a demanda reforçada dos domicílios.

Até que a faixa de flutuação cambial autorizada do yuan fosse expandida, em 2014, a valorização da moeda praticamente não sofria interrupções. Mas os domicílios chineses agora estão mais dispostos a vender suas economias em yuan e diversificar suas reservas em outras moedas.

Os serviços online de compensação de transações de câmbio de alguns bancos sofreram panes temporárias ou desacelerações de seu tempo de resposta por conta de demanda que supera sua capacidade instalada, reportou o "Shanghai Securities News".

Em um banco de médio porte em Xangai, os clientes estavam restritos a comprar US$ 5 mil em moeda estrangeira por dia a não ser que tivessem marcado uma visita previamente; nesse caso, o limite autorizado de compra era de US$ 10 mil, e um máximo de três visitas por semana era permitido, informou o jornal.

O "Financial Times" reportou em setembro que a Administração Estatal do Câmbio havia ordenado que os bancos reforçassem seu controle sobre as transações cambiais, em uma reversão parcial de medidas de cautelosa liberalização adotadas nos últimos anos para facilitar o movimento internacional de capital.

Acima do limite de US$ 50 mil anuais, companhias e indivíduos precisam apresentar documentação que comprove que a operação está ligada ao comércio internacional, investimento direto no exterior ou outros propósitos aprovados, se desejam comprar ou vender moedas estrangeiras.

Enquanto isso, operadores e analistas suspeitam que o Banco Popular da China (banco central) tenha intervindo no mercado do yuan offshore em Hong Kong, na quinta-feira, usando bancos estatais para vender dólares.

O diferencial entre o câmbio do yuan interno e o offshore bateu recorde na quarta-feira, com cotação 2,5% mais baixa para a versão offshore. A expansão do diferencial vem causando embaraços a Pequim, porque o banco central havia anunciado que deseja alinhar as duas taxas de câmbio.

A Administração Estatal do Câmbio não respondeu imediatamente a um fax solicitando comentários, na tarde da sexta-feira.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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