Folha de S. Paulo


Ala petista do governo quer barrar alta da taxa de juros no próximo ano

Joedson Alves/Reuters
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, em reunião em Brasília
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, em reunião em Brasília

Depois da queda do ministro Joaquim Levy, o próximo alvo da ala petista do governo Dilma é a política monetária, com um objetivo já definido: tentar evitar que o Banco Central eleve a taxa de juros no próximo ano.

Reservadamente, assessores presidenciais já começaram, inclusive, a se movimentar nesse sentido, colocando em dúvida a necessidade de uma alta dos juros como tem sido indicado pelo BC em seus últimos comunicados.

A nova equipe econômica, porém, é contra esse tipo de pressão por avaliar que pode ferir sua credibilidade logo na largada. Por isso, não quer que esse assunto entre na pauta da reunião desta segunda-feira (28) com a presidente Dilma, como defende a ala política do governo.

Indicadores do Boletim Focus

Dilma deve reunir sua nova equipe para discutir o pagamento do passivo das pedaladas fiscais e medidas para o próximo ano, como a reforma da Previdência Social.

A tendência do governo é buscar pagar todo o passivo das pedaladas, de R$ 57 bilhões, mas ainda depende de garantir que isso é operacionalmente possível.

Sobre as medidas, a ideia é enviá-las ao Congresso logo na volta dos trabalhos do Legislativo para sinalizar que o governo vai garantir o reequilíbrio das contas públicas no médio e longo prazos.

MUDANÇA NA FAZENDA
Barbosa substitui Levy no ministério
Joaquim Levy e Nelson Barbosa

Em relação à taxa de juros, a ala petista teme que o BC suba os juros já na primeira reunião de 2016, nos dias 19 e 20 de janeiro.

O temor aumentou depois de o banco divulgar seu relatório de inflação na semana passada, quando voltou a alertar que, se a inflação correr o risco de estourar o teto da meta em 2016, de 6,5%, fará o que for necessário para evitar este cenário. Ou seja, pode elevar a taxa Selic, hoje em 14,25% ao ano.

De olho nesse risco, a ala petista do governo já defende, por exemplo, que a presidente Dilma eleve a meta de inflação do próximo ano, que já está fixada em 4,5%, com dois pontos percentuais de tolerância para cima ou para baixo -2,5% ou 6,5%.

A ideia é aumentar o centro da meta para evitar que o BC seja obrigado a subir os juros, proposta que já circulou no primeiro mandato de Dilma, mas que foi rejeitada.

Segundo a Folha apurou, a medida é rechaçada pelo BC e também pelo ministro Nelson Barbosa (Fazenda).

Além de ser contra, o novo ministro disse a assessores que o tema não deve entrar na pauta. No BC, a oposição à ideia é ainda maior. Segundo assessores, só o debate do assunto já cria ruídos na condução da política monetária e gera risco de perda de credibilidade para um governo que precisa recuperá-la.

Um assessor presidencial admitiu que as ameaças de alta dos juros, feitas pelo BC, geram pressões contrárias dentro do governo. Afirmou, porém, que Dilma precisa evitar esse tipo de ação contra o presidente do BC, Alexandre Tombini, para não criar mais instabilidade no mercado.


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