Folha de S. Paulo


Opinião

Acobertar as despesas com juros serve a uma minoria de predadores

Schwartsman desencadeou o embate no artigo #prontofalei. Após anunciar sua grande descoberta, que a inflação reduz os juros nominais (aguardamos ansiosamente sua indicação ao Prêmio Nobel), seu afã em minorar as despesas com juros o induziu a sentenciar que a relação juros/PIB de 6,6% (descontado perdas cambiais), considerando os efeitos da inflação no numerador (juros) e denominador (PIB), nos 12 meses anteriores a setembro de 2015, se reduz para 1,2% quando descontada a inflação.

Na réplica seus interlocutores se apressaram em tranquilizar os candidatos do Enem, revalidando as re- gras aritméticas para frações simples: a razão só pode ser alterada se taxas distintas forem aplicadas ao numerador (juros) e denominador (PIB). Por exemplo, se os juros forem descontados pela inflação da Alemanha e o PIB pela inflação do Sudão do Sul, ou, ainda pior, deflacionar só os juros pelo "efeito da inflação" em todo o estoque da dívida e depois dividir esse valor pelo PIB com inflação, prodígio realizado por Schwartsman.

Schwartsman tornou o debate mais obscuro ao desaparecer com seu mote, o 1,2% do PIB de despesas com juros; não esclarecer a contradição entre suas afirmações de julho:

"A menos que as taxas sejam cortadas severamente, não há simplesmente jeito nenhum de entregar esse resultado" (uma relação da dívida/PIB estável) e novembro: "O salto da relação dívida-PIB não resulta da taxa de juros"; e ocultar mais de 5% do PIB em despesas com juros, sem os quais é impossível compreender a evolução da relação dívida/PIB.

Nada é mais obscuro, no entanto, que as motivações para tentar escamotear os juros nominais, que montam R$ 510 bilhões (incluídas perdas cambiais) nos 12 meses anteriores a setembro de 2015, 8,89% do PIB segundo o próprio Banco Central, cinco vezes o orçamento da Educação e 18 vezes o Bolsa Família, conforme aponta José Serra. A opulência do juro brasileiro parece ser o único ponto de conciliação entre governo e oposição.

Acobertar as despesas com juros serve só a uma minoria de predadores, que se ocupa de produzir a rejeição de sua própria identidade, enquanto ostenta desdém aos que batalham por uma vida digna.

À parte divergências quanto sua compulsão pela usura, sabemos que ofensas pessoais são apenas o caminho encontrado por Schwartsman para desempenhar relativo "protagonismo" no debate econômico. A diversidade dos economistas insultados atribuiu ao colunista a alcunha de "Professor de Deus".

Ao fim do debate não restam ressentimentos. Schwartsman não deve cultivar a pretensão de que é um desafeto.

GABRIEL MURICCA GALÍPOLO é sócio da Galípolo Consultoria. LUIZ GONZAGA BELLUZZO é professor titular do Instituto de Economia da Unicamp.


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