Folha de S. Paulo


Eletropaulo, Ampla e CPFL pedem aval à Aneel para reajuste extra na tarifa

Apu Gomes - 8.jan.2013/Folhapress
Rede de alta tensão da Eletropaulo em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo
Rede de alta tensão da Eletropaulo em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo

As distribuidoras de energia Eletropaulo, Ampla e as pertencentes ao Grupo CPFL pediram à Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) um reajuste extraordinário nas tarifas cobradas ao consumidores, mesmo após altas tarifárias neste ano que chegaram a superar 50%.

As empresas alegam que têm enfrentado custos maiores que os cobertos pelas tarifas, como uma alta na energia da hidrelétrica de Itaipu cotada em dólar, apesar dos elevados reajustes e da arrecadação de R$ 11 bilhões pelas bandeiras tarifárias –sistema implementado neste ano que autoriza cobrança extra nas contas quando há termelétricas com custo elevado em operação– rateado entre todas as distribuidoras.

Nenhuma das companhias revelou o tamanho do reajuste solicitado à Aneel.

A Eletropaulo, que atua na região metropolitana de São Paulo, afirmou que há "descasamento financeiro dos custos (...) em especial pela alta do dólar".

A italiana Enel, proprietária da Ampla, que atua no Rio de Janeiro, disse que apresentou seu pedido "diante do atual cenário do setor elétrico e da pressão financeira por que passam as distribuidoras de energia brasileiras", e que o objetivo é "cobrir os custos extras que não estavam previstos no reajuste ordinário".

Em comunicado, a empresa também justificou a decisão baseada em custos maiores com a compra de energia da hidrelétrica de Itaipu, além de encargos setoriais.

Por sua vez, o Grupo CPFL pediu o reajuste para seis subsidiárias –cinco em São Paulo e uma no Rio Grande do Sul– e afirmou que acumula deficit de R$ 1,9 bilhão até o final do terceiro trimestre devido a um descompasso entre tarifas e custos.

"O pedido de revisão extraordinária tem como objetivo mitigar o impacto financeiro desse saldo nas concessionárias", disse em nota a empresa.

AUMENTOS

Em 2015, as tarifas da Eletropaulo tiveram dois reajustes, um de 32% e outro de 15%, enquanto as da Ampla subiram 42%.

Já as concessionárias da CPFL tiveram reajustes de até 45%, além de uma elevação extraordinária já autorizada de até 35% aplicada no início do ano.

De acordo com as normas do setor elétrico, as distribuidoras contam com um reajuste anual além de revisões periódicas das tarifas, em média a cada quatro anos. Contudo, a elevação dos custos neste ano fez a Aneel garantir um reajuste extraordinário às empresas, aplicado no final de fevereiro.

"Quando o ambiente regulatório está dentro de uma normalidade e as diferenças não são tão expressivas, as concessionárias procuram evitar entrar com pleitos extraordinários, porque o resultado é incerto e cria, digamos assim, um certo desconforto com o regulador", explicou o consultor Eduardo Bernini, da Tempo Giusto.

Bernini acredita, no entanto, que as empresas têm sofrido mais com o descompasso neste ano até devido à alta da inflação.

Já a alta dos preços da energia elétrica, segundo a última ata disponível do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), deve fechar o ano em 51,7%.

ALAVANCAGEM

A defasagem na tarifa tem pesado também sobre a alavancagem das empresas.

A Eletropaulo tem a relação dívida líquida/Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) em 3,4 vezes, ante limite de 3,5 vezes negociado com credores.

Já o Grupo CPFL tem a relação entre dívida líquida/Ebitda em 3,46 vezes, ante teto de 3,75 vezes negociado com credores. A empresa calcula que o indicador seria 2,98 se não houvesse o descompasso.

Ex-presidente da Eletropaulo, Bernini disse que o problema de caixa das distribuidoras é agravado pelo ambiente econômico do país, que torna o crédito mais caro e dificulta a gestão do caixa pelas empresas.

"Os comitês de crédito (de bancos) estão muito mais rigorosos diante desse quadro de riscos que o cenário macroeconômico apresenta, sem contar que o setor financeiro ficou muito exposto ao setor elétrico", apontou.

Um pool de bancos já realizou empréstimos de R$ 21,75 bilhões à CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica) para cobrir custos extraordinários das distribuidoras de energia com a compra de energia mais cara ao longo de 2014 e 2015.


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