Folha de S. Paulo


Start-ups nacionais recebem alunos americanos de MBA para estágios

Em julho passado, Josh Chang e Katy Johnson, alunos da escola americana MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), desembarcaram no Brasil. Não a turismo. A dupla veio fazer estágio no GuiaBolso, start-up com sede em São Paulo.

Chang e Johnson vieram trabalhar em um novo produto da empresa de administração de finanças pessoais. "Os usuários pedem mais serviços de orientação financeira e estamos trabalhando nesse projeto", diz Benjamin Gleason, cofundador do negócio.

Essa não é a primeira experiência de Gleason com estudantes estrangeiros. Em janeiro de 2014, ele recebeu seis estagiários da Universidade Harvard. O grupo foi responsável pela pesquisa para o desenvolvimento da versão mobile da ferramenta.

Adriano Vizoni/Folhapress
Benjamin Gleason na sede do GuiaBolso, em São Paulo
Benjamin Gleason na sede do GuiaBolso, em São Paulo

"Queríamos lançar o aplicativo, mas não tínhamos recurso interno para tocar o projeto naquele momento", lembra o empresário. "Os alunos conseguiram acelerar todo o processo."

Durante o projeto, a língua não foi uma barreira, já que boa parte dos funcionários da start-up domina o inglês.

O primeiro intercâmbio foi possível graças ao Programa Field, da Universidade Harvard. Gleason soube da iniciativa por sua rede de contatos e se candidatou para receber os alunos do MBA.

A experiência, que se repetiu em janeiro passado, dura cerca de quatro meses, sendo três deles de forma remota e dez dias "in loco", no escritório da empresa.
Já a vinda de Chang e Johnson é parte do Misti, um programa de educação internacional do MIT.

Em ambos, a start-up precisa fazer uma candidatura on-line. Se a empresa for selecionada, a faculdade se responsabiliza pelos vistos dos estudantes.

O estágio não é remunerado, então não há custo para os empresários.

Matheus Goyas, cofundador da AppProva, que oferece simulados de vestibular para estudantes, soube do programa Field por um amigo empreendedor.

Ele recebeu seis intercambistas de Harvard em janeiro deste ano. Durante o programa, os alunos focaram em aprimorar as funcionalidades do aplicativo.

"Estamos reestruturando a versão mobile e vamos conseguir aproveitar algumas das ideias, entre elas a forma de apresentar os simulados aos alunos, o que deve melhorar o engajamento do usuário com a ferramenta", conta Goyas.

Mas nem sempre a presença de um aluno dos melhores MBAs do mundo garante um projeto promissor.

"É uma troca cultural relevante, mas não adianta depositar nos alunos estrangeiros a esperança para grandes impasses da sua start-up", alerta Goyas.

No escritório paulista do iFood, aplicativo para pedir comida on-line, nenhuma das sugestões dadas pelos alunos do MBA de Harvard tem horizonte de implementação. "Temos desafios muito específicos e não vemos como operacionalizar as recomendações", diz David Kato, diretor de operações.

Kato, contudo, avalia de forma positiva o período de estágio e já candidatou a empresa para o programa de 2016. "É muita gente inteligente olhando para o seu negócio, o que acaba fazendo você ver a empresa com outros olhos."

NADA DE CAFEZINHO

Para aproveitar bem a presença dos estagiários estrangeiros, é preciso dar acesso aos reais problemas da empresa, ressalva Renê Fernandes, diretor de projetos no Centro de Empreendedorismo da FGV e conselheiro em start-ups.

"São recorrentes os casos nos quais os alunos ficam apenas observando o que acontece na empresa e não colocam a mão na massa. O empreendedor deve elencar quais são os dilemas enfrentados pela empresa e receber alunos com o perfil adequado para solucionar essas questões", diz Fernandes.

No caso da americana Johnson, ela escolheu o GuiaBolso para trabalhar com sua área de interesse: tecnologia mobile. Além de poder voltar ao Brasil, que conhecera em viagem de turismo.

Com as sugestões dos estagiários em mãos, alerta Fernandes, é importante que o empresário se lembre que o Brasil tem características específicas. "Estratégias que funcionam em um mercado podem não dar certo em outro e cabe à empresa perceber a necessidade de adaptação das soluções propostas", diz.


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