Folha de S. Paulo


Corte esperado na meta de superavit leva Bolsa ao menor nível desde março

O principal índice da Bolsa brasileira fechou esta quarta-feira (22) em queda, influenciado pela notícia sobre a decisão da presidente Dilma Rousseff (PT) de reduzir a meta fiscal de 2015 e fazer um novo corte provisório de gastos no Orçamento da União para melhorar o desempenho das contas públicas.

Segundo a Folha apurou, o número que estava sendo fechado nesta terça-feira (21) à noite pode reduzir o superavit primário de 1,1% para 0,15% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2015.

O Ibovespa teve desvalorização de 1,08%, para 50.915 pontos –a menor pontuação desde 27 de março, quando estava em 50.094 pontos. O volume financeiro foi de R$ 5,508 bilhões –abaixo da média diária do ano, de R$ 6,725 bilhões, segundo dados da BM&FBovespa.

O economista-chefe da gestora Invx Global Eduardo Velho disse que o mercado já esperava uma mudança na meta, mas a magnitude superou as projeções. "O governo vai tentar mostrar que a revisão ocorreu em razão da queda da arrecadação e não de aumento de gastos, mas a redução foi muito forte", afirmou.

"É um sinal de que o governo está com dificuldade de fazer cortes suficientes para manter a meta", acrescentou. O espaço para cortar gastos, disse Velho, continuará limitado, ainda mais com o Congresso dividido nas votações de temas de ajuste fiscal.

O executivo da equipe de análises da Um Investimentos Linican Monteiro afirmou que, com a expectativa em torno do corte da meta de superavit primário, "os investidores começam a exigir um aumento de juros pagos pelos títulos emitidos por empresas. Isso eleva o custo de capital das companhias e penaliza aquelas com papéis listados em Bolsa."

O principal impacto, segundo Monteiro, é sobre as estatais como Petrobras, Eletrobras e Banco do Brasil. "O mercado também foi afetado pelo exterior pesado, após a divulgação de balanços ruins de IBM, Yahoo e Apple, que ficaram abaixo das expectativas de analistas", completou o executivo.

As ações preferenciais da Petrobras, mais negociadas e sem direito a voto, caíram 3,81%, para R$ 10,36 cada uma. Já as ordinárias, com direito a voto, cederam 3,97%, a R$ 11,38.

Também no vermelho, os papéis preferenciais da Vale tiveram baixa de 2,80%, para R$ 14,22 cada um. O minério de ferro no porto de Qingdao, na China, caiu 0,65%, para US$ 51,76 a tonelada. O país asiático é o principal destino das exportações da mineradora brasileira.

Além disso, na véspera, a BHP Billiton –maior mineradora do mundo– anunciou aumento de 14% na produção de minério de ferro no ano fiscal de 2015 e informou que prevê alta de 6% em 2016. O anúncio piora o quadro de excesso de oferta e queda da demanda pelo produto.

A Justiça Federal no Maranhão suspendeu parte das obras para a duplicação da Estrada de Ferro Carajás da Vale, após o Ministério Público Federal propor uma ação civil pública, com pedido de liminar, por entender que as obras vêm gerando impactos a um povo indígena da região. A ampliação da ferrovia é uma medida importante no plano de expansão da produção da empresa em sua principal região produtora de minério.

A baixa no preço da commodity também foi sentida pelas siderúrgicas na Bolsa brasileira –o minério é um dos componentes do aço. A Gerdau perdeu 4,38%, enquanto a CSN teve baixa de 2,71% e a ação preferencial da Usiminas mostrou desvalorização de 2,60%.

Os bancos ajudaram a sustentar o Ibovespa no vermelho. Este é o setor com maior peso dentro do índice. O Itaú Unibanco teve perda de 1,56%, enquanto o papel preferencial do Bradesco registrou desvalorização de 0,79% e o Banco do Brasil, de 4,82%.

No sentido oposto, as ações de exportadoras do setor de papel e celulose dominaram a ponta positiva do Ibovespa, na esteira do forte avanço do dólar na sessão. A Suzano teve valorização de 5,85%, para R$ 41,98, enquanto a Fibria subiu 3,63%, a R$ 14,85.

O setor também reagiu em alta à informação de que a produtora chinesa de fibra curta e papel Asia Symbol vai suspender a produção em uma linha com capacidade de 1,5 milhão de toneladas por ano em Rizhao devido à seca que atinge a região de Shandong.

Segundo o Bank of America Merrill Lynch, a linha de produção suspensa responde por 2,5% a 3,0% da oferta global de celulose, que o deve aliviar a pressão sobre o preço do produto durante o verão no hemisfério norte.

CÂMBIO

No mercado cambial, o dólar teve forte valorização sobre o real, também impactado pela notícia de redução na meta do superavit primário do governo brasileiro.

O dólar à vista, referência no mercado financeiro, subiu 1,68% sobre o real, cotado em R$ 3,227 na venda. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, avançou 1,63%, para R$ 3,226.

Nesta quarta-feira, o BC deu continuidade à rolagem dos swaps cambiais que vencem em agosto –operação que equivale a uma venda futura de dólares para estender o prazo de contratos. A oferta de 6 mil papéis foi totalmente vendida por US$ 293,4 milhões. Nos primeiros leilões deste mês, haviam sido ofertados até 7,1 mil swaps.

Mantendo a oferta de até 6 mil contratos por dia até o penúltimo dia útil do mês, o BC rolará o equivalente a US$ 6,396 bilhões ao todo, ou cerca de 60% do lote total. Se continuasse com as ofertas anteriores, a rolagem seria de 70%, como a do mês anterior.

Com agências de notícias


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