Folha de S. Paulo


Garota de dez anos já lucra com incubadora de start-ups para crianças

Em 2012, quando tinha sete anos de idade, a estudante norte-americana Kylee Majkowski fundou a incubadora de start-ups que batizou de Tomorrow's Lemonade Stand (TLS), ou a vendinha de limonada do futuro.

Hoje, aos dez, a garota já tem mais de cem crianças participando do treinamento sobre como empreender elaborado por ela. E conta com cinco adultos, naturalmente treinados pela executiva, para ensinar aos miniempreendedores a importância de se ter paixão e autoconfiança para tocar um negócio.

A mãe de Kylee, Amanda Antico, 41, é, além de incentivadora e tutora da filha, sua sócia e responsável legal pela incubadora.

Ainda que ambas digam que não querem fazer da TLS o negócio da família, mãe e filha nutrem planos ambiciosos. A TLS já dá lucro, mas as sócias não revelam o valor nem o faturamento. Limitam-se a informar que é coisa "pequena" e que esperam que o negócio passe a valer US$ 2 milhões nos próximos três anos.

O plano de expansão já está em execução. Em setembro, a incubadora, sediada nos arredores de Washington, onde moram, atuará em 20 escolas no Estado da Carolina do Norte, ofertando o curso de empreendedorismo infantil como disciplina eletiva.

Na frente pela internacionalização, o Brasil deve ser o ponto de partida. Um professor americano que vive Rio de Janeiro, segundo Antico, procurou a dupla depois de conversar com o diretor da escola onde dá aulas para importarem a metodologia. A Folha não conseguiu localizar o professor.

Divulgação
Kylee Majkowski e sua mãe, Amanda Antico, sócias na incubadora Tomorrow's Lemonade
Kylee Majkowski e sua mãe, Amanda Antico, sócias na incubadora Tomorrow's Lemonade

PULGA

Mãe e filha afirmam que o nascimento da TLS foi casual. Em um dia de 2012, Kylee teria visitado o escritório da mãe, que é, também ela, empreendedora e consultora. Voltou para casa com uma pulga que a mãe resolveu tirar de trás da orelha: por que crianças não podiam ter empresas para executar as próprias ideias? Assim nascia a incubadora.

Inicialmente, 12 crianças se inscreveram para participar do curso, que era realizado na casa delas depois da escola. Custava US$ 165 por aluno por etapa –eram no total três etapas, de dez semanas cada uma.
No ano seguinte, 40 alunos se matricularam. Em 2015, são mais de cem.

Agora, o formato que será testado na Carolina do Norte será condensado em três meses. Cada escola pagará em média US$ 1.500 pela metodologia e um adicional de US$ 25 por aluno que aderir.

No Brasil, a TLS diz que dará descontos devido a alegação de escolas de pagarem o preço cheio. "Vamos gastar dinheiro, e não ganhar. Mas nos apaixonamos pelo país e queremos muito levar nosso negócio para lá", disse Amanda.

A relação com o Brasil começou em abril de 2015, quando Kylee foi convidada a palestrar no Fórum da Liberdade, evento de viés liberal organizado em Porto Alegre. Desde então, recebeu dezenas de contatos interessados na incubadora, segundo Amanda, o mais avançados deles o do Rio.

AULAS PARA A VÓ

O nome Tomorrow's Lemonade Stand é uma alusão à iniciação de crianças ao mundo do dinheiro. É comum, nos Estados Unidos, que elas vendam suco em frente de casa para fazer um trocado.

A incubadora ensina os miniempreendedores a serem mais arrojados, assumir riscos e planejar o negócio, ajuda-os nas estratégias de marketing e, por fim, faz com que saiam do papel.

Uma das start-ups que a TLS incubou é de Ethan Schenker, 11, fundada no final de 2014. A Connect Plus 60 pretende ensinar avós e avôs (ou idosos, em geral) a usar a internet para se comunicar "com quem você ama", diz o slogan. Ethan fez uma vaquinha na família, arrecadou US$ 400 e já tem até cartão de visitas. Até agora, conseguiu dois clientes –a baixa adesão se dá, em sua avaliação, muito por conta da assiduidade questionável de seu público-alvo.

O menino ficou contente em saber que sairia em um jornal brasileiro, porque duas de suas babás eram paulistas e ele sabia dizer "olá, tudo bem?" em português. Ethan também mora nos arredores de Washington.

Na segunda-feira (22), o garoto e sua mãe acompanharam Kylee e Amanda em uma visita ao Google em Nova York.

Depois do almoço, a turma, composta ainda por mais três crianças, visitou escritório da The Muse, empresa que ajuda jovens a encontrar empregos, mostrando oportunidades e bastidores das vagas aventadas. Em abril, a The Muse anunciou ter recebido investimento de US$ 10 milhões.

A Folha acompanhou o encontro com as sócias-fundadoras Kathryn Minshew e Alexandra Cavoulacos.

As crianças queriam saber se elas tinham ficado ricas com o investimento. As empreendedoras disseram que, "infelizmente", o dinheiro não caía em suas contas pessoais. Mas disseram que chegaram a perder dinheiro em empreitadas fracassadas anteriores. As empresárias incentivaram os aprendizes a cometer todos os erros possíveis agora, enquanto ainda não precisam pagar contas.
Kylee é uma inspiração para as crianças, que a consideram "muito boa" e pronta para comandar equipes. A menina concorda, é desenvolta e demonstra gosto pelos holofotes. "Sou boa de negociar", disse. Por exemplo, conseguiu, após meses de tratativas, convencer a mãe a liberar lanches noturnos.

Mesmo em relação a empreender, ela é taxativa. "Tenho mais o perfil de assumir riscos. Não acho que um ou outro arranhão pode me impedir de chegar mais rápido [ao meu objetivo]."
Kylee terá de passar o bastão da TLS em um futuro próximo, porque ela mesma determinou que a incubadora se destina a empreendedores entre sete e 11 anos de idade. Ela diz não querer pensar nisso por ora e se orgulha de preservar o mais importante para o negócio ter sucesso: "o espírito de criança".


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