Folha de S. Paulo


Obra sobre bilionário que quer colonizar Marte é pouco crítica

Mark Zuckerberg criou o Facebook. Jack Dorsey, Noah Glass, Biz Stone e Ev Williams, o Twitter. Larry Page e Sergey Brin ficaram famosos pelo Google. Todas empresas faraônicas, mas nenhuma faz frente às grandiosas criações de Elon Musk. Já ouviu falar?

A biografia "Elon Musk: Tesla, SpaceX, and the Quest for a Fantastic Future", de Ashlee Vance, sustenta que a única comparação páreo ao sul-africano entre empreendedores do Vale do Silício é Steve Jobs, cultuado fundador da Apple, morto em 2011.

Patrick T. Fallon/Reuters
O bilionário Elon Musk
O bilionário Elon Musk

O início da saga é o típico conto de fadas da Califórnia dos anos 2000. Ele deixou a África do Sul rumo ao Canadá, país do qual também é cidadão, e depois para os Estados Unidos, onde se formou em física e economia pela Universidade da Pensilvânia.

Em 1995, mudou-se para Los Angeles, onde fundou com seu irmão, Kimbal, a Zip2 –um avô do Google Maps que permitia a usuários resenhar estabelecimentos–, vendida quatro anos depois por US$ 307 milhões, dos quais US$ 22 milhões para Musk.

Quase tudo foi reinvestido na X.com, cujo objetivo era levar serviços bancários à web. O ano: 1999. Eventualmente, ele percebeu que o negócio era semelhante ao da concorrente Confinity, o que levou a uma fusão que originou o PayPal, vendido por US$ 1,5 bilhão ao eBay.

Segundo o autor, ali já era possível perceber que as ambições de Musk eram maiores que a média das de outros empreendedores. Atacar o setor bancário a fim de integrá-lo à rede, naquela época, de fato beirava o inimaginável.

Para Vance, "enquanto Mark Zuckerberg [do Facebook] quer ajudar você a compartilhar fotos de bebês, Musk quer salvar a raça humana da aniquilação, seja autoinfligida ou acidental".

Essa seria a chave para entender por que Musk encarou em suas empreitadas seguintes duas indústrias gigantescas: a de carros, com a montadora de veículos elétricos Tesla, e a aeroespacial, com a SpaceX, que diminuiu drasticamente os custos de viagens ao espaço sideral.

O plano declarado de Musk é construir uma colônia em Marte. Como não fosse ambição suficiente para uma vida, ele pode acabar tornando obsoleto o motor a combustão –e, desse modo, as guerras por petróleo sem sentido.

BIOGRAFIA AUTORIZADA

Mas há um problema que permeia o livro. Vance, repórter de tecnologia da revista "Bloomberg Businessweek", começou a pesquisa sem a anuência do biografado. Entretanto, o jornalista relata que, "quando já havia falado com cerca de 200 pessoas, Musk entrou em contato".

O todo-poderoso se disse disposto a cooperar, contanto que tivesse acesso à obra antes da publicação e pudesse adicionar notas de rodapé.

Nada feito. Mesmo assim, Musk o ajudou –segundo ele, "dúzias de outros jornalistas" haviam feito esse pedido, "mas eu fui o único idiota irritante que continuou pedindo após a rejeição inicial, e Musk parecia gostar disso".

Falta contraditório. As poucas vozes dissonantes, com nome e sobrenome, ficam por conta de um ex-sócio e da ex-mulher de Musk. Na maioria dos relatos críticos, a fonte é resguardada, sempre sob a justificativa legítima de que Musk, rico e influente, poderia vingar-se.

A concordância do biografado trouxe vantagens. A melhor parte fica com as descrições sobre a Tesla e a SpaceX -principalmente os capítulos de 7 a 11-, às quais houve acesso franqueado. A obra é elucidativa sobre as companhias, mas traz pouco a quem busca compreender, de fato, quem é Elon Musk.

ELON MUSK: TESLA, SPACEX, AND THE QUEST FOR A FANTASTIC FUTURE
AUTOR Ashlee Vance
EDITORA HarperCollins
QUANTO R$ 52,19 (e-book)
AVALIAÇÃO Regular


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