Folha de S. Paulo


Indústria não segura retomada e produção cai 0,9% em fevereiro

Após uma recuperação em janeiro (que não repôs, porém, as perdas dos meses anteriores), a produção industrial não sustentou a retomada e caiu 0,9% na comparação com o primeiro mês do ano, na taxa livre de influências sazonais (típicas de cada período).

Em janeiro, a taxa havia sido positiva em 0,3% –resultado revisado para baixo, originalmente estimado em uma alta de 2%. O dado revisado torna o desempenho do setor ainda mais fraco neste ano.

Em dezembro, a retração ficara em 1,6% nessa mesma base de comparação –nesse caso, ajustado para cima, pois o dado original apontava uma perda maior (3,2%). Os números foram divulgados pelo IBGE na manhã desta quarta-feira (1º).

produção industrial

O resultado de fevereiro veio melhor do que o esperado. O centro das expectativas apontava para uma retração de 2,7%, uma vez que os analistas não esperavam uma revisão tão intensa.

Quando comparados os resultados aos dos mesmos períodos do ano anterior, porém, a indústria se mantém operando com taxas negativas e não mostra sinais de melhora em seu desempenho.

Em relação a fevereiro do ano passado, a produção industrial registrou um forte tombo de 9,1%, após uma retração de 5,1% nesse indicador em janeiro. Trata-se da maior queda desde julho de 2009, em meio à crise global.

No período de 12 meses encerrados em fevereiro, o setor industrial também acumula uma perda de 4,5%, superior aos 3,5% de queda em janeiro.

Dentre os motivos para o fraco resultado, estão o acúmulo de estoques em importantes setores, como veículos, e consumidores e empresários mais pessimistas com o cenário econômico -o que posterga decisões de compras e investimentos.

Com esse quadro, algumas empresas já adotaram medidas como demissões, corte de turnos, suspensão de contratos de trabalho ou férias coletivas para lidar com a conjuntura desfavorável.

SETORES

De janeiro para fevereiro, as perdas de maior peso na taxa da indústria geral ficaram com os setores de veículos automotores (1,7%), fumo (24%), equipamentos de informática (4,2%) e farmacêutica (3,4%), ramos que são afetados pela contração do consumo e do crédito.

Dentre as altas, destacam-se os ramos de perfumaria e produtos de limpeza (2%) e produtos de metal (2,9%).

Entre as categorias de produção que abriam os produtos da indústria, a de bens de capital (máquinas e equipamentos usados na fabricação de outros bens, no transporte, em construção e um termômetro do investimento) teve queda de 4,1% e foi o mais importante impacto negativo na indústria.

A queda se deu pela confiança menor de empresários, dos juros maiores (que encarem a compra de máquinas financiadas) e do aumento do custo do financiamentos do BNDES.

Também tiveram peso as perdas de 0,4% de bens duráveis, categoria inclui veículos, e de bens semi e não duráveis (-0,5%) –o grupo abarca a indústria farmacêutica, bebidas e alimentos, entre outros.

Na comparação com fevereiro do ano passado, os destaques negativos foram também bens de capital (25,7%) e bens duráveis (25,8%).

O fato de o Carnaval ter caído neste ano em fevereiro e em 2014 ter sido em março reduziu em dois dias úteis, o que afetou a produção de fevereiro deste ano e ampliou a intensidade de queda tanto da indústria (9,1%) como dessas duas categorias.

"Os resultados negativos foram um pouco intensificados pelo efeito calendário", disse André Macedo, gerente do IBGE. Entre os setores, chama atenção também os tombos de veículos (33,9%) e equipamentos de informática (33,9%). Dos 24 ramos pesquisados, apenas 2 registraram expansão.

Segundo Macedo, a indústria mantém uma perfil generalizado de queda frente a 2014 e "uma trajetória claramente declinante" diante do menor otimismo, dos estoques altos e do consumo enfraquecido. A tendência de enfraquecimento do setor industrial se intensificou a partir de setembro do ano passado.

PERSPECTIVAS

Para analistas, a indústria viverá, em 2015, mais um ano de queda da produção. Em 2014, a perda foi de 3,2%, segundo o último dado revisado pelo IBGE. Foi a maior retração desde 2009.

O mesmo cenário desfavorável, dizem analistas, deve se repetir neste ano, com os agravantes da possível freada mais forte da economia global e a crise da Petrobras, que paralisou investimentos e afeta toda a cadeia de óleo e gás e de parte da de construção civil –que demanda insumos e máquinas da indústria.

O mercado de deve piorar –em fevereiro, a taxa de desemprego subiu acima das expectativas e superou a marca do mesmo mês do ano passado– e o crédito tende a se tornar mais caro, fatores que devem restringir mais o consumo.


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