Folha de S. Paulo


Levy reverteu em 40 dias 4 anos de política econômica, diz ex-colega

Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco, fez defesa calorosa do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, seu ex-colega no banco, em evento do Ibef (Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças) nesta quinta-feira (12).

Para Barros, Levy, que era diretor-superintendente da Bradesco Asset Management antes de assumir a Fazenda, é um homem que "só pensa no Brasil" e que conseguiu "reverter quatro anos de política econômica em 40 dias".

As declarações foram dadas durante uma palestra no Fórum Ibef SP de Finanças, que reuniu cerca de 200 executivos no hotel Unique, em São Paulo.

O tema do evento –que contou com palestras do presidente da Comissão de Valores Imobiliários, Leonardo Pereira, e da presidente da Standard & Poor's, Regina Nunes– eram os "Cem dias do novo governo e perspectivas para o Brasil". O objetivo do encontro era discutir as análise de cenário e projeções de classificação do risco Brasil diante do novo programa econômico do governo.

Em clima de piadas com a crise, os executivos presentes deixaram claro o apoio ao ministro da Fazenda. Segundo o presidente do Ibef, José Cláudio Securato, Levy é "o Meirelles da Dilma". Para ele, a "sólida experiência do ministro em gestão pública" justifica o apoio generalizado dos executivos presentes.

Leia a seguir entrevista de Barros à Folha.

*

Folha - O senhor disse que "em 40 dias Levy reverteu quatro anos de política econômica". Como isso seria possível?

Octavio de Barros - Refiro-me à reversão de medidas como a desoneração de folha e a recomposição de preços administrados, além dos ajustes em algumas distorções como as do seguro-desemprego, abono salarial e pensão por morte.

Entendo que o objetivo foi fazer correções, algumas delas em coisas que já estavam sendo debatidas faz tempo. Joaquim Levy, Tarcísio Godoy e Nelson Barbosa estão coesos em um novo desenho fiscal que tem como desafio restaurar a confiança e construir uma nova plataforma para o crescimento futuro.

O senhor também disse que "a parte macroeconômica está bem endereçada, o problema do Brasil é corporativo". Pode falar um pouco sobre esse problema corporativo?

A maior preocupação hoje é com a cadeia de óleo e gás e com o setor de construção pesada. Em razão dos episódios recentes, o que tem acontecido é uma ampla retração em investimentos de infraestrutura que são hoje o único propulsor do crescimento futuro da economia brasileira.

As incertezas em relação ao racionamento de energia elétrica e de água também afetam as decisões das empresas. É preciso virar essas páginas o mais rápido possível.

Outra coisa que o senhor disso é que, "hoje, política e Petrobras é que definem o câmbio no país". O que isso significa?

Ainda que o dólar forte no mundo explique uma boa parte da depreciação cambial brasileira, o real se depreciou muito mais do que outras moedas. Acho que Petrobras e as incertezas políticas estão jogando um papel mais importante neste momento. O real já se depreciou em mais de 40% desde setembro do ano passado e uns 25% desde o Copom de janeiro. Acho que o fundamento justificaria menos depreciação. Acredito que o câmbio volte um pouco, sobretudo se as medidas econômicas forem aprovadas.

O senhor disse que uma das medidas importantes que o Levy está disposto a fazer é acabar com "relação complicada entre o Tesouro e os bancos públicos", que "o BNDES tem hoje o monopólio do dinheiro barato" e que ele (o BNDES) será "mais parceiro do mercado de capitais". Isso não subverte os propósitos do BNDES?

A Lei de Diretrizes Orçamentárias aprovada prevê que nos próximos anos anos o Tesouro não repassará recursos aos bancos oficiais. Entendo que isso redefina em grande media a atuação dessas instituições, em linha com a necessidade de um ajuste fiscal que entregue a meta de 1,2% do PIB de superavit primário.

Entendo que o BNDES continuará jogando um papel muito importante, mas não no mesmo ritmo dos últimos anos. Acredito que o BNDES terá um papel maior no dinamismo do mercado de capitais brasileiro.


Endereço da página: