Folha de S. Paulo


Prejudicada por bancos, Bolsa cai e interrompe sequência de ganhos

Depois de uma sequência de quatro altas, o principal índice da Bolsa brasileira fechou esta quarta-feira (16) em queda de 0,46%, para 55.717 pontos. O volume financeiro movimentado foi de R$ 6,690 bilhões –acima da média diária do mês de julho, de R$ 4,819 bilhões.

O Ibovespa foi prejudicado pelo desempenho negativo de Itaú Unibanco e Bradesco, que viram suas ações caírem após o Morgan Stanley ter cortado sua recomendação a esses papéis.

Os analistas Jorge Kuri, Jorge Chirino e Felipe Salomão rebaixaram a recomendação dos papéis do Bradesco de "overweight" –acima da média do mercado– para "underweight" –abaixo da média do mercado. Já para o Itaú a avaliação foi de "equalweight" –em linha com o mercado– a "underweight".

As ações do Itaú cederam 2,59% (a R$ 33,45 cada), enquanto as preferenciais –sem direito a voto– do Bradesco perderam 3,28% (a R$ 33,57 cada). Atualmente, o setor bancário é o que possui o maior peso no Ibovespa.

"Amanhã também tem a prévia do PIB brasileiro em maio. Os investidores podem ter pisado no freio das compras hoje porque preveem um resultado ruim para este indicador. A nossa projeção é de ligeira alta de 0,2% na comparação mensal, mas há quem possa estar esperando uma contração, o que deixa o mercado receoso", diz João Pedro Brügger, analista da consultoria Leme Investimentos.

A baixa do setor financeiro ofuscou o bom desempenho das ações da mineradora Vale, na esteira do crescimento um pouco acima do esperado da China no segundo trimestre, de 7,5%. O país asiático é o principal destino das exportações da companhia brasileira. O papel preferencial da Vale subiu 1,78% (a R$ 28,52).

Quem liderou a ponta positiva do Ibovespa foi a ação da Oi, com forte ganho de 12,82% (a R$ 1,76), após a Portugal Telecom ter anunciado a revisão do acordo de fusão com a operadora brasileira, na sequência do não pagamento da dívida da Rioforte.

Segundo nota, o novo acordo prevê redução da fatia da Portugal Telecom na companhia resultante da associação entre ela e a Oi. A mudança foi motivada após a Rioforte, holding da família Espírito Santo, não ter pagado os 847 milhões de euros de notas promissórias compradas pela Portugal Telecom que venceram ontem. A Oi disse que a Rioforte tem um período "de cura" de sete dias úteis para pagar a dívida.

Do outro lado do Ibovespa, as ações da empresa de logística ALL perderam 4,57% (a R$ 7,72 cada). A companhia divulgou seu resultado no segundo trimestre, em que sua geração de caixa ficou praticamente estável, com as operações ferroviárias afetadas por cenário de difícil demanda, o que prejudicou os volumes transportados.

ELEIÇÕES

As próximas pesquisas eleitorais permanecem no radar dos investidores. De acordo com o site do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), estão previstos para esta semana os levantamentos Sensus, Datafolha e Ibope sobre as intenções de voto na eleição presidencial de outubro.

Os investidores, segundo analistas, esperam que a presidente Dilma Rousseff (PT) perca espaço na corrida pelo Planalto, passado o efeito Copa do Mundo. Se confirmada, o impacto da queda de Dilma deve ser positivo sobre a Bolsa, especialmente nos papéis das estatais, uma vez que o mercado tem se mostrado insatisfeito com a gestão dessas companhias pelo atual governo.

O Banco do Brasil foi na contramão dos demais bancos e fechou em leve alta de 0,74% (a R$ 27,35), enquanto a ação preferencial da Petrobras teve valorização de 0,26% (a R$ 19,31). Já o papel preferencial da Eletrobras subiu 0,36% nesta quarta, para R$ 11,27.

No exterior, as Bolsas dos EUA fecharam em alta após o Livro Bege do Fed (banco central americano) ter mostrado que a economia continua se recuperando em ritmo moderado.

"O documento veio um pouco mais otimista, o que poderia abrir margem ou brecha para uma alta antecipada dos juros nos EUA. Mas acho que ainda é cedo para dizer isso, porque a melhora da economia americana é natural depois de um inverno rigoroso que prejudicou a atividade naquele país", afirma Brügger.

CÂMBIO

No câmbio, o dólar à vista, referência no mercado financeiro, teve ligeira valorização de 0,09% sobre o real, cotado em R$ 2,226 na venda. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, avançou 0,04%, para R$ 2,222.

Segundo operadores, a moeda americana, que vinha em tendência de queda pela manhã, mudou de tendência em meio a especulações do mercado de que a presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, poderia apertar a política monetária naquele país.

Yellen repetiu nesta quarta-feira à Câmara dos Deputados o discurso que proferiu ao Senado na véspera, quando afirmou que os juros nos EUA poderiam subir mais cedo que o esperado se o emprego melhorar. Mas ela também disse que recuperação econômica dos Estados Unidos continua incompleta, com o mercado de trabalho ainda abalado e salários estagnados.

Aqui, o Banco Central deu continuidade ao seu programa de intervenções diárias no câmbio, através do leilão de 4 mil contratos de swap (operação que equivale a uma venda futura de dólares), pelo total de US$ 198,6 milhões.

A autoridade monetária brasileira também promoveu outro leilão para rolar os vencimentos de contratos de swap previstos para 1º de agosto, por US$ 346,5 milhões. Até o momento, o BC já rolou cerca de 35% dos papéis com prazo para o primeiro dia do mês que vem.

O mercado aguarda pelo fim da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil), nesta noite, que decidirá o futuro da taxa Selic. O consenso dos economistas ouvidos pela Folha é de que a autoridade monetária manterá o juro básico inalterado em 11% ao ano.

Com Reuters


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