Folha de S. Paulo


Petrobras teria alta no custo de captação se Brasil for rebaixado

Um eventual rebaixamento do Brasil pelas agências de risco seria negativo para a Petrobras, que precisa acessar o mercado internacional da dívida para manter seu plano de investimentos, afirmou o gerente executivo de planejamento financeiro e de gestão de risco, Jorge Nahas.

"Minha percepção é que estamos muito longe disso (rebaixamento do Brasil), mas do ponto de vista estrutural, a perda do grau de investimento afetaria todas as companhias do Brasil", disse durante seminário sobre a reavaliação do risco Brasil em 2013.

Atualmente, informou Nahas, 38% da dívida da Petrobras vem do mercado de capitais internacional. Para ele, o aumento do custo seria o único reflexo do rebaixamento do Brasil, já que o volume não seria afetado.

"Existe um excedente de liquidez (recursos disponíveis) no mercado internacional. Acreditamos que ainda vai ter muita liquidez", avaliou.

O problema, destacou, que é o custo da captação é um componente importante na avaliação dos projetos da Petrobras. "Cada 1% no aumento do custo de capital trazido a valor presente é um aumento estúpido", disse.

Ele afirmou que a empresa tem mantido um caixa mínimo para não ter nenhum tipo de aperto se o mercado de dívida ficar mais restrito, e por ter fontes de financiamentos diversificadas, não teria problemas com um eventual aperto externo. "Batemos de porta em porta, se fechar, batemos em outra porta", disse Nahas.

O executivo não quis comentar o aumento dos combustíveis concedido na sexta-feira, de 4% para gasolina e 8% para o diesel, abaixo das expectativas do mercado, e que fez as ações da estatal despencarem hoje.

Para ele, a Petrobras está vivendo "um doce problema", porque tem muitas reservas de petróleo para desenvolver e entregas (de produção) que fará mais à frente.

"Vamos continuar investindo forte e em 2014 já vamos colher os resultados", anunciou.

RISCO

Diante dos resultados negativos na área fiscal do governo brasileiro, a agência de risco S&P (Standard & Poor´s) está revisando a nota do país, atualmente no patamar de grau de investimento com a nota BBB. Segundo a presidente da S&P no Brasil, Regina Nunes, a discussão na agência se limita à revisão da nota e não do grau de investimento do país.

Em junho, a S&P informou que havia colocado o Brasil em perspectiva negativa e que em 24 meses faria uma nova avaliação. Este prazo porém poderá ser mais curto, se os números do governo piorarem, e mais longo, se a melhora for relevante.

"Tudo agora no Brasil está em cima da situação fiscal. Pode acontecer uma revisão em seis meses ou em seis anos, vai depender do que vai acontecer daqui para frente", explicou.

"A crise de credibilidade do país não veio por acaso, você parou de fazer o compromisso com o superávit primário", completou.

"O Brasil não fez o trabalho de casa na parte fiscal. O dinheiro está indo para custeio, e tem que ser melhor usado, em infraestrutura, que é o que o país precisa", afirmou.

Ela disse ainda que o fato de 2014 ser ano eleitoral não interfere na decisão da agência, mesmo que um eventual rebaixamento desfavoreça a reeleição da presidente Dilma Rousseff.

"Nossa obrigação é com o investidor. Se tiver que haver queda na classificação vai acontecer", afirmou.

Segundo ela, se o Brasil for rebaixado de nota, para BBB- (de BBB), a Petrobras seguirá o mesmo caminho, já que é controlada pelo governo. Mas explicou porém que a nota da empresa continuará BBB-, porque hoje ela só é considerada BBB por causa da nota seu controlador. "Para a Petrobras não mudaria nada", informou.

PIB

Nunes disse também que a credibilidade do Brasil e a confiança do investidor não vão melhorar caso a revisão do crescimento da economia em 2012 mostre um desempenho mais forte, como indicou a presidente Dilma Roussef em entrevista ao "El País".

"Quando você (governo) não está surpreendendo positivamente, reavaliar nunca é bom. Quando você começa a discutir o passado para tentar cumprir as metas de hoje, isso é um problema", disse.

Dilma chegou a dizer que o crescimento do ano passado foi revisado para 1,5%, diferentemente dos 0,9% divulgados antes. Depois o porta-voz da Presidência, Thomas Traumann, esclareceu que o dado é uma estimativa com base em estudos preliminares do Ministério da Fazenda.


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