Folha de S. Paulo


Setor de telecomunicações no Brasil é motivo de muitas dúvidas

É a grande questão do setor de telecomunicações, neste momento --a Telecom Italia venderá sua participação acionária controladora na operadora de telefonia móvel brasileira Tim Participações?

Depois de ter seus títulos rebaixados à categoria de junk bonds pela Moody's, na terça-feira, a operadora italiana certamente precisa do dinheiro. E a Telefónica, da Espanha, que no mês passado fechou acordo para garantir o controle da Telecom Italia, é vista como fortemente favorável a passar para frente a subsidiária brasileira. Mas quem desejaria comprá-la?

Também seria possível indagar por que o mercado está passando por tamanho frenesi quanto a uma possível transação. Mas estamos falando de dinheiro grosso. A Reuters reportou esta semana que a Telecom Italia pretende levantar pelo menos nove bilhões de euros (US$ 12 bilhões) com a venda.

A despeito da recente desaceleração econômica no Brasil, seu setor de telefonia móvel continua em ascensão. O Brasil já conta com quase 270 milhões de conexões de telefonia móvel ativas (nada mau, se considerarmos que a população do país é de apenas 200 milhões de pessoas). Por volta de 2018, o número deve crescer a 350 milhões, de acordo com relatório da Ericsson. O uso de celulares inteligentes também está crescendo rapidamente - para a classe média em ascensão do país, eles são a maneira mais econômica de usar a Internet. Cerca de metade das vendas de celulares no primeiro trimestre deste ano envolvia smartphones, ante cerca de 40% em 2012 como um todo, de acordo com o relatório. Os brasileiros cada vez mais usam seus celulares para acessar a Internet e assistir a capítulos de suas novelas favoritas, e o tráfego de dados deve crescer em 1.200% nos próximos cinco anos.

O crescimento do mercado brasileiro de telefonia móvel talvez impressione ainda mais se considerarmos o quanto as ligações com celulares são caras no país. De acordo com um relatório União Internacional de Telecomunicações publicado esta semana, os brasileiros pagam a mais alta tarifa mundial por suas ligações telefônicas - em média US$ 0,74 por minuto. E conseguir recepção decente no país também pode ser um pesadelo.

Dado o tamanho da Tim, as autoridades regulatórias dificilmente permitirão que a operadora seja vendida para uma única companhia. A empresa detém participação de cerca de 27% no mercado brasileiro de telefonia móvel (a Claro tem 25%, a Oi 19% e a Telefónica, conhecida pela marca de sua operadora de telefonia móvel Vivo, é a líder, com 29%).

Em lugar disso, o provável é que a operadora seja dividida entre as três outras grandes operadoras brasileiras. Eis o que têm a dizer os analistas do Macquarie Bank:

"Nossa suposição básica é a de que a Telefónica Brasil seja a principal compradora da TIM Brasil, o que reflete sua posição superior de balanço. A Claro (AMX) terá precedência para os ativos que a TEF Brasil não possa adquirir por conta de problemas regulatórios, e por último virá a Oi".

Presumindo que a Tim seja fatiada dessa forma, o Macquarie estima que o mercado seria dividido da seguinte forma entre as "três grandes":

"A Telefónica Brasil terminará com 38% do mercado brasileiro de telefonia móvel (ante os 29% atuais), a Claro com 31% (ante 25%) e a Oi com 26% (ante 19%). Significativamente, a Oi adquirirá os ativos da TIM Brasil em São Paulo, o que é importante".

Parece bastante simples, não? No entanto, com tantas companhias envolvidas, e mais as autoridades regulatórias brasileiras, a batalha pela TIM deve ser longa e sangrenta - pode se arrastar por meses, se não por mais de um ano.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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