Folha de S. Paulo


Dilma diz que país tem 'bala na agulha' para enfrentar câmbio

A presidente Dilma Rousseff disse nesta quarta-feira que o Brasil tem "bala na agulha" para enfrentar a alta do dólar, que já subiu 16% em 2013 e que pressiona a inflação.

A presidente se referia às reservas cambiais, uma espécie de poupança do governo em dólares. As reservas somam US$ 372 bilhões e servem para o país enfrentar crises externas como a atual.

"Nós temos o que se chama bala na agulha para encarar esse processo que ocorre internacionalmente, que independem das decisões de política econômica. Eles são frutos dessa globalização financeira que impera no mundo", disse ela.

Dilma lembrou que o câmbio é flutuante, mas que as intervenções no mercado feitas pelo Banco Central são para impedir que essas variações sejam "abruptas".

"Nós não temos meta de dólar. Se você perguntar para alguém e alguém responder que tem, você desconfia, porque ninguém tem condições de dizer isso."

"Nós estamos entre os cinco, seis países com o maior volume de reservas do mundo. É como se a gente tivesse um colchão. Sabe aquela história de guardar dinheiro no colchão? A gente não guarda no colchão, mas o Brasil tem US$ 372 bilhões de reservas."

A presidente deu entrevistas a duas emissoras de rádio de Belo Horizonte. Disse que o que ocorre hoje com o dólar diz respeito a uma situação provocada pelas ofertas da moeda feita pelos EUA.

No mercado, os analistas se dividem sobre a eficácia dos instrumentos do governo para conter o câmbio em longo prazo (veja abaixo).

Para conter o dólar, o BC anunciou US$ 54,5 bilhões em leilões de linhas de crédito em dólares, com compromisso de recompra, e de swap cambial, que equivalem a venda de dólar futuro. Em ambos os casos, não há perda das reservas. Isso ocorre na venda de dólar à vista.

Na avaliação do BC e do Ministério da Fazenda, não há necessidade de vender dólar à vista porque não falta moeda americana. O que precisava ser oferecido, nesse diagnóstico, era proteção cambial (hedge) para empresas e investidores nos próximos meses, o que o BC está fazendo.

Para o sócio da consultoria Tendências, Nathan Blanche, considerado um dos país do câmbio flutuante no país, o diagnóstico está correto e o governo acertou ao permitir ao BC utilizar os instrumentos habituais no lugar de colocar tarifas e impostos.

"Deixaram o Banco Central trabalhar e fazer o que sabe."

"O problema é se essa pressão chegar ao mercado à vista, o que pode ocorrer mais para o final do ano e próximo da eleição de 2014. Nesse caso, o BC vai ter de torrar reservas", disse Ricardo Rocha, professor do Insper.

Blanche, no entanto, discorda de o BC criar programas previsíveis de atuações, como o atual, e das declarações sobre a política cambial.

"Fala para a autoridade calar a boca. Sempre que falar vão errar e criar desconfiança do mercado", disse.

*

BALA NA AGULHA
Entenda os principais instrumentos para segurar o dólar

Venda à vista
BC tira dólares das suas reservas e vende com preço menor para forçar a desvalorização da moeda americana
Vantagens: aumenta a oferta de dólares no mercado à vista, o que diminui a cotação para importadores, empresas com dívidas em dólar e turistas que vão para o exterior
Desvantagens: BC perde reservas; intervenção não é eficaz na formação do preço do dólar no futuro

Leilão de crédito em dólar
BC empresta dólares a empresas na data atual, com o compromisso de recomprá-los depois de determinado período pelo valor de mercado
Vantagens: aumenta a oferta de dólar no mercado à vista; ameniza preocupações quanto ao preço da moeda no futuro; BC não perde reservas
Desvantagens: dá munição para o mercado especular com o preço futuro do dólar

Leilão de swap cambial
Equivale à venda de dólares no mercado futuro, pois o BC vende um título se comprometendo a pagar, em reais, a variação cambial de determinado período
Vantagens: reduz pressão de alta do preço futuro do dólar; BC não gasta reservas
Desvantagens: não interfere no preço atual da moeda americana e dá munição para o mercado especular com o preço futuro do dólar

Venda a termo
Instrumento semelhante ao swap cambial, mas não utilizado pelo BC em que ele se compromete a pagar, em reais, a variação cambial de determinado período
Vantagens: tira a incerteza sobre o preço futuro do dólar
Desvantagens: não interfere no preço atual da moeda americana e dá munição para o mercado especular com o preço futuro do dólar

Imposto no mercado futuro
Governo coloca imposto para reduzir (ou anular) o ganho com as apostas sobre cenários de preço do dólar
Vantagens: tira incentivo para especulação na Bolsa
Desvantagens: muda a regra do jogo, aumentando incerteza de aplicações no país

*Venda de dólar na BM&F
Usado até 1999 na época do câmbio fixo, BC vendia dólar por meio do Banco do Brasil na BM&F, reduzindo a taxa no mercado futuro
Vantagens: reduz pressão de alta do preço futuro do dólar; BC não gasta reservas
Desvantagens: não interfere no preço atual da moeda americana e dá munição para o mercado especular com o preço futuro do dólar

Fonte: Folha e BM&F


Endereço da página: