Folha de S. Paulo


Dólar fecha em alta e vai a R$ 2,387, apesar de atuação do BC; Bolsa cai

Apesar da intervenção do Banco Central, o dólar fechou em alta em relação ao real nesta segunda-feira (26) com os investidores ainda digerindo o plano do Banco Central de injetar US$ 54,5 bilhões no mercado para conter a escalada da moeda americana.

"O plano do BC tem muito mais fatores negativos do que positivos. Quando o governo lança um programa como esse, o mercado entende que há uma preocupação com o câmbio e isso anima. Por isso o dólar caiu bastante na última sexta-feira (23). No entanto, agora, o mercado voltou a realidade: o cenário não mudou", diz Guilherme Prado, especialista em câmbio da Fitta.

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O dólar à vista --referência para as negociações no mercado financeiro-- fechou em alta de 0,76% em relação ao real, cotado em R$ 2,387 na venda. Já o dólar comercial --utilizado no comércio exterior-- subiu 1,31%, para R$ 2,384.

Vale ressaltar que ambas as cotações do dólar são referências nos cenários mencionados: mercado financeiro e comércio exterior.

O consumidor que vai comprar a moeda para viajar, por exemplo, pagará preços diferentes, que variam conforme o banco ou corretora, e, em geral, são mais altos que as referências de mercado.

De acordo com Prado, o plano do Banco Central não é tão eficiente para conter a alta do dólar porque ainda permanecem as incertezas sobre quando o Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, vai começar a cortar o estímulo econômico naquele país.

Desde 2009, o Federal Reserve recompra, mensalmente, US$ 85 bilhões em títulos do governo americano para injetar recursos na economia.

Como parte do dinheiro vira investimentos em outros países, inclusive o Brasil, a possibilidade de um corte no incentivo já em setembro, quando haverá uma nova reunião do Fed, desagrada o mercado.

Além disso, investidores preveem que, encerrada a recompra de títulos, o próximo passo será o aumento do juro dos EUA, hoje quase zero. Juro mais alto deixa os títulos do Tesouro americano, remunerados pela taxa, mais atraentes que aplicações de maior risco, como Bolsas, especialmente de emergentes.

"Ainda temos outro problema: um deficit muito elevado na nossa balança de pagamentos, o que contribui para a alta do dólar", acrescenta o especialista em câmbio da Fitta.

LEILÃO

O Banco Central vendeu pela manhã 10 mil contratos de swap cambial, operação que equivale à venda da moeda americana no mercado futuro, por US$ 497,9 milhões. Os papéis têm vencimento em 2 de dezembro de 2013.

A operação é parte do plano da autoridade para conter a escalada do dólar. O plano do BC --que começou a valer na última sexta-feira (23)-- prevê a realização de leilões de swap cambial tradicionais de segunda a quinta, com oferta de US$ 500 milhões em contratos por dia, até dezembro.

Às sextas-feiras, o BC oferecerá US$ 1 bilhão por meio de linhas de crédito em dólar com compromisso de recompra -mecanismo que pode conter as cotações sem comprometer as reservas do país.

BOLSA

No mercado de ações, o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, interrompeu uma sequência de duas altas e fechou o dia em queda de 1,47%, a 51.429 pontos.

Os investidores operaram com cautela, segundo especialistas, aguardando a divulgação de importantes dados econômicos ao longo da semana, como o resultado do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro no segundo trimestre do ano e a definição de um novo patamar para o juro básico nacional (Selic).

"Foi um dia fraco em termos de indicadores, com apenas uma referência nos EUA [pedidos de bens duráveis], mas o indicador não exerceu muita influência no mercado", diz João Brügger, analista da Leme Investimentos.

Segundo Brügger, o mercado deve monitorar com atenção a reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), que acontece entre amanhã e quarta-feira (28).

"O mercado já conta com uma alta na Selic, então, isso não deve afetar o desempenho da Bolsa. O foco, porém, recai sobre o comunicado da autoridade, e se ele vai indicar um ciclo de alta maior ou menor do juro básico", afirma.

Ações da MMX, mineradora de Eike Batista, fecharam em queda de 8,09%, a R$ 2,16, e lideram as baixas do Ibovespa no dia. Em sentido oposto, apenas cinco papéis dos 71 que compõem o Ibovespa subiram no dia: LLX (+1,78%), Suzano (+0,9%), Cielo (+0,89%), Klabin (+0,6%) e Localiza (+0,5%).


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