Folha de S. Paulo


Metade dos internautas acha que empresas usam seus dados sem autorização

Metade das pessoas que utilizam a internet na cidade de São Paulo acredita que as empresas usam seus dados pessoais e os compartilham com outras empresas (ou pessoas) sem a sua devida autorização. E sete em cada dez deles não confiam no armazenamento dos dados pelos sites que demandam informações pessoais.

O resultado faz parte de pesquisa inédita feita pela Fecomercio SP sobre o comportamento dos usuários da internet. Para o levantamento, foram entrevistados mil usuários da capital paulista em maio.

"Chama a atenção o fato de quase 88% dos usuários afirmarem que os sites deveriam guardar os registros de acesso para auxiliar nas investigações de crimes eletrônicos. É um sinal de maturidade do consumidor", diz o advogado Renato Opice Blum, presidente do Conselho de Tecnologia da Informação da Fecomercio SP.

Após o congresso, os resultados do estudo serão encaminhados ao Congresso Nacional, que debate projeto de lei do marco civil regulatório da internet.

"Ao contrário do que prevê o marco (o dever de manter os registros de conexão à internet pelo administrador é facultativo), o usuário quer que a empresa guarde as informações de acesso, é uma forma de proteção para investigar crimes eletrônicos. Esse é um ponto relevante que deve ser levado em consideração antes de o marco ser aprovado", afirma.

Para o advogado, especialista em direito digital, o marco civil deveria obrigar os provedores de conteúdo (os donos de sites) a guardar os registros de acesso dos usuários aos sites e a aplicativos. Na proposta do marco regulatório, os provedores decidem se querem ou não manter esses registros --só será obrigatório no caso de ordem judicial. Ele acredita que isso dificulta a investigação da autoria dos crimes.

COMPORTAMENTO

Apesar de 87% dos usuários temerem fraudes e ataques de hackers em seus computadores, tablets e celulares pessoais, quase um terço deles costuma levar dados e informações (confidenciais ou não) das empresas em que trabalha nesses dispositivos pessoais. Dos internautas entrevistados, 49% informaram que costumam levar seus dispositivos no trabalho.

O usuário da internet tem conhecimento da nova lei contra crimes cibernéticos, conhecida como Lei Carolina Dieckmann, e que entrou em vigor há quatro meses. "Mas também acredita que ela é insuficiente para combater os crimes virtuais", diz o presidente do Conselho de Tecnologia da Informação da Fecomercio SP.

Dos que informaram já ter sido vítima de crimes digitais (ou alguém na família já ter sido), um terço já teve cartão de crédito ou débito clonado. Em seguida estão: o uso de dados pessoais (17,32%), desvio de dinheiro de conta bancária nas transações feitas pela rede (15,64%) e comprar de empresa fantasma (12,85%).

O percentual que já sofreu algum crime digital passou de 12,7% em pesquisa feita no ano passado para 17,9% neste ano. Também caiu o número de usuários que usam algum software ou outras ferramentas tecnológicas para evitar fraudes e roubo de senhas - passou de 79,80% em 2012 para 65,4%.

Parte das informações não pode ser comparada com estudos anteriores, porque novos temas e questões foram introduzidos no levantamento deste ano.

NA HORA DA COMPRA

Sete em cada dez consumidores que costumam comprar pela rede ainda reclamam que as empresas não apresentam as informações de forma clara e objetiva em relação aos produtos e serviços que oferecem.

Um terço dos entrevistados (32,9%) também informou no estudo que o receio de fraudes o impede de fazer compras pela internet. Para 17%, falta segurança nos sites em que pretendiam comprar. No ano passado, o percentual que deixou de comprar por temer fraudes era maior --61%.

Neste ano, 55,9% disseram que fazem compras pela rede ante 62,7% no ano passado. Somente 9,5% informaram fazer compras pelas redes sociais em 2013. No ano passado, esse percentual chegou a 25,1%.

Segundo especialistas do varejo, essa queda está relacionada a desaceleração da economia e queda de confiança do consumidor - mais cauteloso, ele adia a decisão de adquirir produtos, principalmente bens duráveis.


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