Folha de S. Paulo


Obama inicia rodada de discursos com foco na classe média

Sem ter alcançado resultados significativos no Congresso para o avanço da economia desde o início de seu segundo mandato, nos últimos seis meses, o presidente Barack Obama iniciou hoje uma rodada de discursos com foco na classe média.

Para estudantes de Galesburg, Illinois, Obama declarou que a geração de emprego é sua prioridade, em um pronunciamento que marca seu retorno ao tema, após ter a agenda ocupada por acontecimentos recentes que variaram de terrorismo a escândalos sobre o programa de vigilância do país.

O novo esforço começou com o discurso de hoje e será seguido por eventos semelhantes nos próximos meses.

Obama usou grande parte de seu tempo para evidenciar o impasse no Congresso e as pressões de políticos que, segundo ele, não só ignoram os problemas da classe média, como também os agravam.

"Há republicanos que, privadamente, concordam com muitas das minhas propostas, mas receiam a retaliação política", disse, antecipando o clima das batalhas fiscais sobre Orçamento nos próximos meses.

Scott Olson/AFP
Presidente dos EUA, Barack Obama, discursa no Knox College, em Illinois
Presidente dos EUA, Barack Obama, discursa no Knox College, em Illinois

O Knox College, onde falou hoje, foi o palco de um grande discurso em 2005, enquanto senador, quando também abordou o papel do governo no apoio à classe média. Na época, antes da crise, o desemprego marcava 5%, taxa bem inferior aos atuais 7,6%.

Em tom enérgico, ecoou o mesmo tema, destacando que a classe média não se beneficiou dos avanços recentes.

A economia americana apresenta crescimento estável mas lento há mais de quatro anos, com recuperação dos preços no setor de casas, no mercado de ações e nas vendas do varejo. O aquecimento trouxe alguma mudança no duradouro pessimismo, mas para a classe média, a qualidade do emprego e os salários se depreciaram.

"Estou aqui para dizer algo que vocês já sabem. Ainda não chegamos lá", disse Obama, confirmando a previsão de analistas sobre o conteúdo de seu discurso.

"Ainda que nossas companhias estejam lucrando e criando novos empregos, quase todo o ganho dos últimos dez anos continua a seguir para a camada mais rica, que representa 1% da população. Presidentes de empresas tiveram aumentos de 40% desde 2009. O americano médio ganha menos do que em 1999."

O que vem pela frente, segundo sinalizam autoridades de Washington, não devem ser propostas econômicas inovadoras, mas ideias que Obama já vem oferecendo há anos.

"Eu tenho mostrado as minhas ideias para beneficiar a classe média. Agora é a vez de vocês apresentarem as suas", disse em referência aos colegas republicanos, que acusa de provocar o impasse político.

Foram novamente mencionados elementos como a necessidade de investimento em energia, indústria, infraestrutura, educação e elevação de salários.

Na opinião da oposição, as palavras do presidente não passam de retórica. Para o presidente da Câmara, o republicano John Boehner, o resultado é nulo.

Em setembro de 2011, Obama propôs ao Congresso US$ 447 bilhões em estímulos para o mercado de trabalho, com possibilidade de isenção fiscal a companhias que promovessem contratação ou investimentos, proposta rejeitada pela oposição republicana, avessa à elevação de impostos.

Em 2012, perto do fim de sua campanha à reeleição, o presidente renovou o projeto. No início deste ano, usou a maior parte de seu discurso do Estado da União para tratar da necessidade de enxugar o Orçamento e reduzir o desemprego.


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