Folha de S. Paulo


Empresa americana propõe nova solução para as malditas medidas dos sutiãs

São medidas que muitas mulheres --e mais que alguns homens-- dos Estados Unidos conhecem muito bem: 32A, 34B, 36C.

E assim por diante, seguem os tamanhos ordinários dos sutiãs, até pelo menos 50N.

Esses tamanhos estão em uso pelo menos desde os anos 30. São padrões desencontrados que variam de marca para marca, dos meia-taça aos sem alça --uma visão caleidoscópica, em renda e elástico, da cultura e do poder duradouro do marketing.

Mas será que alguém está preparado para medidas como 1-30, 7-36 e 9-42?

Esses são apenas três dos 55 novos tamanhos que um grande fabricante norte-americano de sutiãs desenvolveu para resolver uma lamentação tão antiga quanto os sutiãs: muitos deles não servem direito.

O setor de roupas de baixo, ansioso por vender suas mercadorias, decidiu escutar a queixa e oferecer uma mistura cada vez maior de formas e tamanhos --muitas vezes a preços cada vez mais altos-- a fim de convencer as mulheres a comprar aquele novo sutiã.

A Jockey International, nome veterano e prestigiado, ainda que não muito glamouroso, do setor de roupas íntimas, dedicou oito anos a desenvolver o novo sistema de medidas, que a companhia diz levar em conta a forma dos seios da mulher, e não apenas o tamanho do busto.

Os sutiãs são uma resposta no mercado de massa às medidas personalizadas que se tornaram cada vez mais populares em lojas de departamento finas e butiques.

É difícil determinar se a abordagem da Jockey vai ou não dar frutos. Mas o Jockey Bra, lançado quinta-feira, ainda assim representa novo passo na evolução dos sutiãs modernos.

Nos anos 20, as flappers (como eram chamadas as mulheres mais liberais naquela década) optavam por sutiãs apertados, que lhes davam aparência andrógina.

Já nos anos 50, sutiãs que criassem um busto mais volumoso e pontudo eram a maior moda. Os anos 70 trouxeram os sutiãs confortáveis, desestruturados --e em seguida a Victoria's Secret.

Nos anos 90, os Miracle Bras disputavam com os Wonderbras o título de reis do decote. A década de 2000 trouxe tamanhos maiores para mulheres maiores.

Agora, em uma nova virada do ciclo, o setor está enfatizando os benefícios de medidas mais precisas. Isso pode atrair as mulheres que começaram a se interessar mais por moda apenas recentemente.

"As pessoas agora conhecem mais as minúcias da moda, e se concentram em coisas como o ajuste perfeito", diz Valerie Steele, diretora do Museu do Instituto de Tecnologia da Moda.

Pode parecer surpreendente, mas o setor de lingerie mesmo defende a ideia de que os sutiãs industrializados muitas vezes são servem exatamente.

TAMANHO ERRADO

A Wacoal, fabricante de sutiãs, diz que oito entre 10 mulheres usam o tamanho errado, por exemplo. Até agora, porém, os tamanhos padronizados mal haviam mudado, ainda que a gama de tamanhos se tenha expandido.

Os tamanhos de bojo se baseiam em duas medidas --o seio em seu ponto de máxima extensão menos a medida da caixa torácica.

Se a diferença for de uma polegada (2,54 centímetros), o bojo é A; se for de duas polegadas, será B; e assim por diante. Essa abordagem, dizem executivos da Jockey, não leva em conta as diferentes formas dos seios.

A Jockey começou o projeto digitalizando medidas de 800 mulheres e obtendo "dados firmes sobre todas as diferentes medidas do tamanho do torso e dos seios de uma mulher", diz a vice-presidente sênior Sally Tompkins.

Pesquisadores acompanhavam as mulheres em suas casas, durante a escolha e o processo de vestir um sutiã, e ouviam expressões de "completa insatisfação sobre todos os aspectos do processo de compra de sutiãs, da imprecisão à forma pela qual as medidas são tiradas", diz Dustin Cohn, vice-presidente de marketing da companhia.

No final do processo, a Jockey havia definido 10 tamanhos de bojo, em diversos formatos, e criado uma fita métrica especial.

As clientes devem provar os bojos e determinar qual é o melhor encaixe, e depois medir sua caixa torácica. Uma mulher com caixa torácica de 34 polegadas e seios de tamanho médio usaria um sutiã tamanho 5-34 ou 6-34, por exemplo.

Charla Welch, que avaliou o processo de medição em seu blog, constatou que os bojos plásticos eram todos longos demais e que nenhum se encaixava com perfeição. Ela diz que seu tamanho é 32H (na medida padrão), e que pedirá um sutiã 9-32 da Jockey.

DESAFIO

O Jockey Bra terá de superar diversos desafios de negócios.

Primeiro, o kit de avaliação de tamanho custará US$ 19,95 para a compradora online, ainda que a Jockey afirme que oferecerá um cupom de desconto de US$ 20 e mais garantia de devolução do dinheiro caso o sutiã comprado não se encaixe.

Outras companhias que vendem produtos de encaixe complicado, como a fabricante de óculos Warby Parker, enviam versões de testes gratuitas aos potenciais compradores.

"Estamos essencialmente sendo convidadas a pagar adiantado, para tomar parte dessa experiência", disse Jennifer O'Brien, diretora de planejamento estratégico da agência de publicidade Laird & Partners, que não trabalha na conta do Jockey Bra.

"Ao menos na fase de lançamento, acho que o kit deveria ser grátis. O ideal é remover o máximo possível de barreiras a fim de conseguir o envolvimento das pessoas no processo, porque é um novo mundo."

E o sutiã custa US$ 60, mais caro que muitos concorrentes, apesar de sua aparência funcional e da escolha limitada de cores: bege, branco ou preto. "É um preço de entrada alto", admite Tomkins, da Jockey.

Ela diz que a companhia só está vendendo o novo sutiã online e em suas lojas, e não em lojas de departamentos, para tentar explicar às consumidoras o que está por trás do novo sistema.

Quanto a convencer as mulheres a aderir aos novos sistemas de medição, O'Brien aponta para o exemplo dos jeans denim premium, que as mulheres compram com base no tamanho de sua cintura e para os quais a maioria das demais abordagens tentadas não deram certo.

Tomkins diz que isso é uma preocupação.

"Isso é algo que nos preocupou desde o começo", ela disse. "É sempre um risco, quando você muda algo que esteve no mercado por muito tempo, mas não estamos mudando só a definição de tamanho, e sim todo o produto".

Tradução de Paulo Migliacci


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