Folha de S. Paulo


Em visita ao Brasil, Schwarzenegger elogia crescimento econômico do país

Ganhar dinheiro explorando a boa forma física sempre foi uma especialidade de Arnold Schwarzenegger, 65, o fisiculturista que virou astro de Hollywood, empresário e político, sempre com sucesso. E é essa mistura de "fitness" e "business" que o traz ao Brasil pela quinta vez, para promover o Arnold Classic Brasil, primeira edição nacional do evento esportivo que ele e o empresário Jim Lorimer, 85, realizam nos EUA desde 1989.

A versão brasileira --orçada em R$ 6 milhões, pagos via lei de incentivo estadual-- acontece no Rio até o domingo (28), misturando feira de negócios (nas áreas de nutrição esportiva e equipamentos de fitness) e 13 competições esportivas variadas (de levantamento de peso a pole dancing). Os organizadores estimam um público de 50 mil pessoas e um impacto econômico de R$ 60 milhões na cidade.

Andre Freitas - 25.abr.2013/AgNews
Arnold Schwarzenegger na chegada ao Rio para evento de fisiculturismo
Arnold Schwarzenegger na chegada ao Rio para evento

"O Brasil é um pais voltado para o esporte, cheio de esportistas reconhecidos internacionalmente. Nossa intenção é transformá-lo na Meca dos esportes na América do Sul", disse Schwarzenegger em entrevista à Folha, na noite de sexta (26). "O potencial do Rio é imenso, a cidade se tornou um centro internacional de esportes, por causa da Copa do Mundo e da Olimpíada."

O que atraiu o lado empresário de Schwarzenegger foi o lucrativo mercado brasileiro de academias (o país tem 24 mil delas, segundo os organizadores do evento) e de nutrição esportiva, que cresceu 23% nos últimos cinco anos e movimentou US$ 250 milhões só no ano passado. Mas o homem que diz fazer 45 minutos de treino cardiovascular e mais 45 de levantamento de peso diariamente também se preocupa em ser um embaixador da malhação como caminho para uma vida saudável.

"Sou um produto dos esportes, não apenas fisicamente, mas mentalmente. Eles são a melhor maneira de ensinar as crianças sobre disciplina e trabalho duro, sobre camaradagem e sobre traçar metas e perseverar até atingi-las. Essas regras foram muito importante quando comecei a atuar, e na política é a mesma coisa. Por isso sou um entusiasta disso e busco motivar as famílias a se exercitarem, não importa com que tipo de esporte. É disso que trata o Arnold Classic, uma celebração dos esportes, da saúde, do bem-estar."

Na entrevista à Folha, Schwarzenegger falou ainda sobre como viu as mudanças por que o Brasil passou desde sua primeira visita, nos anos 1970, defendeu sua luta contra a obesidade durante o período em que governou a Califórnia (2003-2011) e mostrou seu lado republicano ao criticar a reforma do sistema público de saúde conduzida pelo democrata Barack Obama.

Gus Ruelas/Reuters
O ator e ex-governador da Califórnia Arnold Schwarzenegger
O ator e ex-governador da Califórnia Arnold Schwarzenegger

Como surgiu a decisão de trazer o Arnold Classic para o Brasil?

É um país muito atrativo porque as pessoas são muito voltadas para os esportes, tanto como espectadores quanto como praticantes. Ontem [quinta, dia 25] passamos pela praia à noite e havia gente jogando bola, fazendo exercícios, isso é fantástico, é uma celebração da saúde e da boa forma. Por isso quisemos trazer o evento para cá, com essa mentalidade que há no país e o crescimento econômico, o Arnold Classics vai ser imenso.

Essa é sua quinta visita ao Brasil. Como viu as mudanças por que o país passou?

A cada visita, notei que a infraestrutura do país melhorava, mais prédios, mais hotéis, mais estradas. Em 2011, vim com [o diretor] James Cameron, visitamos a floresta tropical, foi fantástico, mas não sei como estava antes, porque nunca havia visitado. Tendo em vista que o mundo hoje é globalizado, nós, na Califórnia, ficamos sabendo de cada passo que vocês dão aqui. O Brasil teve um extraordinário progresso econômico e grandes lideranças nas últimas décadas, pessoas visionárias, que pensavam grande. O Brasil não sentiu tanto a recessão como nós sentimos, e o que eu mais aprecio é que, enquanto vocês tiveram esse tremendo crescimento econômico, continuaram fazendo um bom trabalho de proteção do meio ambiente, o que eu acho muito importante. Vejo um grande futuro para este país.

O sr. diz que seu evento é uma forma de divulgar a importância dos exercícios físicos. Mas, desde que o lançou, a obesidade só aumentou. O sr. está numa batalha perdida ou usando as armas erradas?

A obesidade é um problema social, para o qual não há uma solução simples. Como governador, vi em primeira mão o tamanho do desafio. A Califórnia foi o primeiro Estado a banir a `junk food' das escolas. Criamos leis que proíbem a venda de biscoitos doces, refrigerantes e a presença de máquinas de venda nas escolas. As empresas lutaram contra isso, mas nós falamos: não nos importamos que vocês lucrem nas escolas, mas produzam algo que é bom para as crianças. Há muito que se pode fazer, mas não há muitos Estados fazendo. Houve cortes orçamentários e, quando isso acontece, esse tipo de programa é o primeiro a ser cortado, assim como os professores de educação física nas escolas. Isso é falta de visão, porque a obesidade acaba custando muito mais para a sociedade do que o dinheiro para manter esses professores.
Na Califórnia, as pessoas estão em melhor forma do que nos outros Estados, mas nós somos só um décimo dos Estados Unidos, há muito que ainda precisa ser feito. Mas é complicado. Tivemos nossa reforma do sistema de saúde, na qual certas pessoas ganham acesso gratuito ao sistema. Eu acredito fortemente que todo mundo deve contribuir com algo, então, se você não pode contribuir financeiramente, faça pelo menos um favor: não engorde. Porque nós, como sociedade, temos de pagar por seu acesso à saúde para tratar dos problemas que a obesidade traz, diabete, problemas cardiovasculares. Já que você não pode pagar, contribua se exercitando, não fumando, não comendo tudo que quiser. Essa é sua obrigação.

É curioso o sr. dizer isso, porque é um notório fumante de charutos.

Há muitos aspectos contraditórios dentro de mim. Sempre tive um lado rebelde, é da minha personalidade. Se alguém me diz que devo usar um capacete quando for andar de bicicleta, não vou usar. É loucura, mas sou assim. Mas sempre digo às crianças: não fumem. Façam o que eu digo, não o que eu faço.

O sr. falou sobre como o fisiculturismo ajudou a moldar sua personalidade. Que papel suas outras carreiras tiveram nisso?

Quando você se torna um campeão, as pessoas admiram sua capacidade, o que te dá confiança. Com confiança, você pode tentar qualquer coisa. Depois de ser campeão do mundo, quis ser estrela de cinema. As pessoas diziam que não ia acontecer, mas eu tinha a confiança que os esportes me deram, a determinação e a disposição para trabalhar duro. Eu tenho muito foco. Se tenho de vir ao Brasil para promover o Arnold Classic, me concentro nisso. O telefone pode estar tocando com produtores me oferecendo papéis, outras oportunidades de negócio surgindo, mas eu não dou atenção. Por isso sou bem-sucedido no que faço. Quando fui governador, era a mesma coisa, as pessoas me procuravam para falar do que eu poderia fazer com a minha carreira quando saísse do cargo, mas eu só me concentrava no que era melhor para o Estado. Podia lidar com minha carreira depois.


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