Folha de S. Paulo


Lucina lança álbum com letras de qualidade quase impensável

Marlene Bergamo/Folhapress
A cantora Lucina, que lança 'Canto da Árvore
A cantora Lucina, que lança 'Canto da Árvore'

A trajetória da cantora e compositora Lucina está inserida no álbum "Canto de Árvore", que será lançado com show nesta sexta (4) em São Paulo, no Auditório Ibirapuera. Estão ali, numa receita renovada, os ingredientes que caracterizam seu trabalho desde a projeção alcançada na dupla Luhli & Lucina, entre 1972 e 1998.

Lucina pode ser definida por sua voz grave e educada, a constante busca por parceiros de poesia poderosa e a preocupação em entregar sempre um pacote musical sofisticado, que, na miopia do mercado, não consegue apelo comercial.

"Não sou uma pessoa que fica pensando em mercado", diz Lucina à Folha. "Tenho uma obra. Sei que é consistente, uma obra boa. Se eu não acreditasse nela, já tinha ido fazer outra coisa. É o tal negócio. Você plantou o trigo, colheu o trigo e fez o pão, agora só vai fazer sentido se alguém comer. A arte se completa quando chega na pessoa."

A mato-grossense radicada no Rio lança o disco de inéditas oito anos depois do álbum "+ do que Parece". Para tanto, considera fundamentais o patrocínio de uma grife e o encontro com um grupo de músicos bem atuantes na cena independente.

O núcleo instrumental do disco é formado por Marcelo Dworecki (baixo, cavaquinho e violão), Peri Pane (cello e vocal) e Otávio Ortega (acordeon e piano). A relação com o grupo teve início quando foi convidada para um show deles no Rio, no qual Peri Pane divulgava um álbum seu.

O músico pediu que ela cantasse na apresentação a composição "Canto de Árvore", parceria dela com o poeta arrudA, que tem extensa colaboração com Peri.

"Eles foram lá em casa e em uma hora a gente tinha feito o arranjo da música. Veio tão fácil, porque já existe uma linguagem entre eles", conta Lucina.

"Quando a gente mostrou isso no palco, o impacto foi forte. A reação das pessoas foi tão impressionante que a gente já estava completamente apaixonada. Quando fui fazer o novo CD, tinha de ser com eles."

Após apenas três ensaios, o disco foi gravado em cinco dias no estúdio. No repertório, letras com poesia de qualidade quase impensável no atual estágio da música brasileira são assinadas, entre outros, por Joãozinho Gomes, AlziraE, Paulo Bastos e Luhli, que é autora sozinha de "O Que Ficou".

"O que move esse CD é e a extrema necessidade de atualizar o meu discurso com o meu público", diz Lucina. A concretização disso passa pela sonoridade rara das músicas. Dworecki, Peri e Otávio fogem do convencional e conseguem o inusitado em várias configurações, como, por exemplo, violão, cello e sanfona. Soa bonito e forte.

O show terá Lucina com esse trio de escudeiros e também Ney Marques, no bandolim, e Décio Gioielli, na percussão, que completaram o time na gravação do álbum.

Em participações especiais, ele divide os vocais de "Guerra dos Egos" com Gustavo Galo, da Trupe Chá de Boldo, e AlziraE, coautora da música. Galo também cantará "Cidade".

Outras vozes no palco serão as de arrudA, com seus poemas, e de Peri Pane, que cantará com Lucina a inédita "Na Face da Terra", feita para ela e Luhli pelo amigo Itamar Assumpção (1949-2003).

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LUCINA
QUANDO sex. (4), às 21h
ONDE Auditório Ibirapuera, av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, tel. (11) 3629-1075
QUANTO R$ 20
CLASSIFICAÇÃO livre


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