Folha de S. Paulo


Dylan fala de Buddy Holly e Homero em discurso de aceitação do Nobel

Bob Dylan finalmente entregou à Academia Sueca o seu discurso de aceitação do Prêmio Nobel de Literatura, no qual fala de Buddy Holly e de Homero como fonte de inspiração para suas canções.

A Academia, que em 13 de outubro surpreendeu o mundo ao conceder o Nobel de Literatura ao cantor e compositor americano, teve que esperar mais de duas semanas até que Dylan se manifestasse.

O cantor tampouco quis ir em dezembro à cerimônia de entrega porque disse estar com a agenda cheia.

No discurso, lido pelo próprio Bob Dylan em um arquivo de áudio disponível no site da Academia, o músico fala da relação entre as suas letras e a literatura.

"Quando recebi o Nobel de Literatura, comecei a me perguntar como as minhas canções estão exatamente relacionadas com a literatura", disse.

Depois cita músicos que o inspiraram, como Buddy Holly, cuja canção "mudou a minha vida", e livros que o impactaram, entre eles "Moby Dick", de Herman Melville, e "Nada de novo no front", de Erich Maria Remarque.

Dylan, autor da canção "Blowin in the wind", também falou de Ulisses, o protagonista do poema épico de Homero, "A Odisseia".

"Os ventos o sacodem e lhe fazem dar voltas. Ventos agitados, ventos frios, ventos hostis. Viaja longe e o vento o devolve", afirma.

Dylan, que recebeu o prêmio por ter criado "novas expressões poéticas dentro da grande tradição da música americana", segundo a Academia, assegura que não se importa com o significado das letras.

"A única coisa que importa é se uma canção comove. Não preciso saber o que significa [...]. Escrevi todo tipo de coisa nas minhas músicas. E não vou me preocupar com o que significam", assegura no discurso.

PRÊMIO

Bob Dylan tinha até 10 de junho para entregar o seu discurso de aceitação se quisesse receber o prêmio em espécie de US$ 923 mil, que é dado pelo Nobel.

A regra da Academia indica que deve entregá-lo em um prazo máximo de seis meses depois de 10 de dezembro, a data da cerimônia de entrega dos prêmios que coincide com a data de morte de seu fundador, Alfred Nobel.

O discurso pode tomar qualquer forma - ditado na cerimônia oficial, gravado ou até uma canção.

Depois de meses de silêncio, Dylan aceitou finalmente em 1º de abril o diploma e a medalha de ouro do Nobel em uma cerimônia particular com os 12 membros da Academia Sueca em Estocolmo, onde tinha dois shows marcados.

"Houve muita alegria, muito champanha", disse após essa reunião a secretária permanente da Academia.

Mas, segundo Maria Schottenius, crítica literária do jornal sueco Dagens Nyheter, a experiência com Dylan e a sua demora em aceitar o prêmio obrigará a fazer mudanças no futuro.

"A Academia Sueca terá que ter mais cuidado no futuro se for entregar um prêmio a uma grande estrela do rock que não quiser vir recolhê-lo", disse à AFP.

"Embora não se arrependam de ter dado o prêmio a Bob Dylan, sem dúvida causou alguns problemas", acrescentou.

Não é a primeira vez que um vencedor do Nobel de Literatura não comparece à cerimônia de entrega, mas por razões distintas.

Doris Lessing (vencedora em 2007) não pôde ir por sua idade avançada; Harold Pinter (2005) porque estava hospitalizado; e Elfriede Jelinek (2004) se recusou a ir porque sofre de fobia social.

Até agora, o filósofo francês Jean-Paul Sartre foi o único vencedor a recusar o prêmio, em 1964.


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